Eu falei que o Foschini havia ficado tímido, recatado, quieto depois de nosso treino turbinado, não?
Pois no dia seguinte ele resolveu me dar o troco.
Saímos de Piranhas após aquele mega-almoço e combinamos que iríamos seguir o carro da TV Gazeta, pois eles eram originários de Arapiraca e conheciam bem a região. Combinamos que eles iriam na frente e acertamos as velocidades:
- Eu vou a cento e vinte - o motorista arapiraquense comentou.
- E o Foschini vai a sempre vinte - acrescentei. Rsrsrsrs.
Logo partimos, agradecendo ao Eduardo (em nome de toda a cidade de Piranhas) pela excelente estadia e receptividade que obtivemos. Entre encontros e desencontros na estrada, uma perdidinha aqui, outra ali, chegamos à casa do Foschini, em Maceió. Fui muito bem recebido numa bela e arejada casa a apenas cem metros da praia, mais ao norte de Maceió. A esposa do Foschini, Mara, é uma simpatia de pessoa!
Como não poderia deixar de ser, combinamos um treininho no mar. Havíamos chegado tarde - mais de dez da noite. Por isso, o Foschini foi legal comigo e deixou eu dormir até as três da manhã, pois às quatro já estaríamos na água.
Antes de sair de casa, os avisos dele:
- Você deve usar roupa. Evite ir apenas de sunga, pois podemos encontrar caravelas e águas vivas.
E lá fui eu vestir minha roupa de natação.
- É bom passar um pouco de vaselina, pois vamos nadar pelo menos 4 horas
E lá fui eu passar a dita vaselina nas articulações.
- Vamos levar o que comer. Eu vou levar pêssego em calda neste potinho. Acho que você devia fazer um lanchinho e levar.
E lá fui eu preparar um tanto de malto para colocar na pochete que levaríamos junto ao corpo. O próprio Foschini embrulhou o pão num saco plástico e colocou na pochete.
- Se você encontrar um peixe-boi no meio do caminho você não estranha não - ele me disse. É daqui da região, uma fêmea que é monitorada pelos pesquisadores. Ela pode aparecer por baixo de você - então, não se assuste.
E lá fui eu tentar digerir mais esta: como é que eu reagiria se um bicho de mais de dois metros e meio viesse me encontrar naquela escuridão? Acho que eu ia ter um troço!
Saímos às 4 da manhã, breu total na praia. Para ajudar, estava chovendo!
Os dois com roupas pretas - afinal, roupa de nadador não é igual a roupa de mulher, de mil cores e estampas a escolher. eu ainda usava uma touca vermelha - a dele era preta. Ideal para brincar de esconde-esconde em alto-mar!
Saímos nadando em direção a um conjunto de luzes bem distante. Água numa temperatura agradável, mas impossível de se enxergar qualquer coisa. Quando eu ficava à esquerda de meu amigo, respirava para a direita e buscava segui-lo. Mas aquela dorzinha no ombro às vezes se manifestava. Então eu mudava e ia pra direita, respirando para a esquerda. Com o mar um tanto mexido - começou a ventar - somado a algumas parcas luzes da praia eu facilmente perdia o Foschini de vista.
Não havia muito o que fazer - era buscar não se perder da melhor maneira possível.
No meio do caminho, demos de encontro com alguns currais no meio do mar - montados pelo homem para criação de algum peixe/ molusco, não sei ao certo. Tínhamos que desviar. o Foschini, avisou:
- Vamos passar pela esquerda por que à direita tem os corais e você pode se machucar!
E lá fui eu passar à esquerda.
Mais adiante, ele me avisa: daqui a pouco vamos passar por um banco de areia. Mas não apoie os pés no fundo - tem ouriços por ali.
E lá fui eu sem colocar os pés no fundo.
No meio do caminho, como não poderia deixar de ser, nos perdemos um do outro. O que fazer numa praia estranha, na escuridão da noite e sem saber até onde ir, por onde passar? Se eu não o encontrasse, rumaria em direção à praia e a "diversão" - se é que eu poderia chamar aquilo de diversão - terminaria ali mesmo. Fiquei chamando por ele até que nos reencontramos. Combinamos nova estratégia para nos perdermos menos e seguimos nadando.
Passamos as luzes que havíamos mirado. Eu estava cansado e um tanto desanimado. O Foschini queria prosseguir - comecei a desconfiar que ele tinha um caso com o peixe-boi. Rsrsrsrs. O sol havia se levantado e se escondia atrás das nuvens. Paramos para uma alimentação. Tomei minha malto - à temperatura do mar - que ficou horrível e comi um pêssego em calda que meu colega levou. Não me atrevi a desembrulhar o pão, que devia estar encharcado com água salgada naquela altura do campeonato!
- Vamos voltar - eu sugeri. Já estamos nadando há cerca de duas horas - estimei.
Assim o fizemos. A volta foi mais tranquila - não sei se pelo fato de eu estar renovado pela alimentação ou se pelo extremo desejo de reencontrar com uma cama - seca e quente - para descansar.
Acabamos por não encontrar a Lua - este é o nome do peixe-boi amiga do Foschini. Meu cardiologista agradece.
E, finalmente, após extasiantes 4 horas de emoções agradabilíssimas, coloquei os pés de volta na areia de onde partimos.
E lá fui eu tomar um banho quente, um bom café da manhã e dormir por mais 3 horas para tirar o atraso e compensar pelo "programão" de chuva, vento, ondas, corais, pedras, ouriços, caravelas, águas vivas, currais, escuridão, assaduras, perdição e quase encontro com o peixe-boi proporcionado por MEU AMIGO Foschini.
Cinco destemidos nadadores encaram o desafio de nadar 170 km no Rio São Francisco, entre os estados de Alagoas e Sergipe. Sem se deixar esmorecer pelos fortes redemoinhos e pelas altas ondas provocadas pelo vento terral, eles têm boas histórias para contar. Em meio a um povo humilde e hospitaleiro, marcado por uma forte diferença social eles cumprem seu objetivo: evidenciar a necessidade de preservação do rio e de seu ecossistema. Embarque nesta aventura!
São duas figuras...
ResponderExcluirUm mais peça rara que o outro.
A cada dia esse desafio ganha contornos diferentes, e olha que estamos ainda nos primeiros capítulos.
Valeu Parceiros!
Olá, peixarada! Com ou sem a Lua! Tudo bem? :)
ResponderExcluirPois é... O que seria dos amigos se não fossem aqueles que nos colocam e nos tiram das graaaaandes aventuras da vida e do mar? :D
Brincadeirinha! Nem tenho intimidade para brincar assim com o Foschini! No final das contas, eu só o conheço através de suas narrações, mas ele deve ser super gente boa e tem um pique fora do normal, não? :D
Parabéns aos que conseguem nadar e se manter concentrados apenas no que lhes é oferecido, ou seja, o marzão, o breu e nada mais (no seu caso, com um pouco mais de ingredientes!)- Eu ainda estou na batalha para exterminar todos os bichos imaginários e indesejados que aparecem na cabeça nessas horas!
Percival, parabéns ao seu programa "eu sobrevivi", deste post! Grande aventura, hein?!
Desejo muita força e concentração ao cardume! Força aí, brasileiros! :)
O Foschini é uma pessoa fantástica! Grande companheiro de travessias e um entusiasta do esporte ao ar livre.
ResponderExcluirEle devia ter nascido peixe. Peixe-boi, talvez... Grande abraço!
O Edmundo sempre foi e sempre será uma pessoa que tem sempre à frente um objetivo. Doa a quem doer e custe o que custar ele chega lá. Eu sempre o admirei por esta busca e conquista. O nadador deste porte meu ver, precisa de grande concentração e determinação, e acredito, piamente, que ele tem os dois. E para aqueles que o acompanharão neste desafio, com certeza, têm também o objetivo e a garra, necessários para esta conquista. Vocês todos contam com minha eterna admiração (Claro, fora d'água rsrsrsr)
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