Eu falei que o Foschini havia ficado tímido, recatado, quieto depois de nosso treino turbinado, não?
Pois no dia seguinte ele resolveu me dar o troco.
Saímos de Piranhas após aquele mega-almoço e combinamos que iríamos seguir o carro da TV Gazeta, pois eles eram originários de Arapiraca e conheciam bem a região. Combinamos que eles iriam na frente e acertamos as velocidades:
- Eu vou a cento e vinte - o motorista arapiraquense comentou.
- E o Foschini vai a sempre vinte - acrescentei. Rsrsrsrs.
Logo partimos, agradecendo ao Eduardo (em nome de toda a cidade de Piranhas) pela excelente estadia e receptividade que obtivemos. Entre encontros e desencontros na estrada, uma perdidinha aqui, outra ali, chegamos à casa do Foschini, em Maceió. Fui muito bem recebido numa bela e arejada casa a apenas cem metros da praia, mais ao norte de Maceió. A esposa do Foschini, Mara, é uma simpatia de pessoa!
Como não poderia deixar de ser, combinamos um treininho no mar. Havíamos chegado tarde - mais de dez da noite. Por isso, o Foschini foi legal comigo e deixou eu dormir até as três da manhã, pois às quatro já estaríamos na água.
Antes de sair de casa, os avisos dele:
- Você deve usar roupa. Evite ir apenas de sunga, pois podemos encontrar caravelas e águas vivas.
E lá fui eu vestir minha roupa de natação.
- É bom passar um pouco de vaselina, pois vamos nadar pelo menos 4 horas
E lá fui eu passar a dita vaselina nas articulações.
- Vamos levar o que comer. Eu vou levar pêssego em calda neste potinho. Acho que você devia fazer um lanchinho e levar.
E lá fui eu preparar um tanto de malto para colocar na pochete que levaríamos junto ao corpo. O próprio Foschini embrulhou o pão num saco plástico e colocou na pochete.
- Se você encontrar um peixe-boi no meio do caminho você não estranha não - ele me disse. É daqui da região, uma fêmea que é monitorada pelos pesquisadores. Ela pode aparecer por baixo de você - então, não se assuste.
E lá fui eu tentar digerir mais esta: como é que eu reagiria se um bicho de mais de dois metros e meio viesse me encontrar naquela escuridão? Acho que eu ia ter um troço!
Saímos às 4 da manhã, breu total na praia. Para ajudar, estava chovendo!
Os dois com roupas pretas - afinal, roupa de nadador não é igual a roupa de mulher, de mil cores e estampas a escolher. eu ainda usava uma touca vermelha - a dele era preta. Ideal para brincar de esconde-esconde em alto-mar!
Saímos nadando em direção a um conjunto de luzes bem distante. Água numa temperatura agradável, mas impossível de se enxergar qualquer coisa. Quando eu ficava à esquerda de meu amigo, respirava para a direita e buscava segui-lo. Mas aquela dorzinha no ombro às vezes se manifestava. Então eu mudava e ia pra direita, respirando para a esquerda. Com o mar um tanto mexido - começou a ventar - somado a algumas parcas luzes da praia eu facilmente perdia o Foschini de vista.
Não havia muito o que fazer - era buscar não se perder da melhor maneira possível.
No meio do caminho, demos de encontro com alguns currais no meio do mar - montados pelo homem para criação de algum peixe/ molusco, não sei ao certo. Tínhamos que desviar. o Foschini, avisou:
- Vamos passar pela esquerda por que à direita tem os corais e você pode se machucar!
E lá fui eu passar à esquerda.
Mais adiante, ele me avisa: daqui a pouco vamos passar por um banco de areia. Mas não apoie os pés no fundo - tem ouriços por ali.
E lá fui eu sem colocar os pés no fundo.
No meio do caminho, como não poderia deixar de ser, nos perdemos um do outro. O que fazer numa praia estranha, na escuridão da noite e sem saber até onde ir, por onde passar? Se eu não o encontrasse, rumaria em direção à praia e a "diversão" - se é que eu poderia chamar aquilo de diversão - terminaria ali mesmo. Fiquei chamando por ele até que nos reencontramos. Combinamos nova estratégia para nos perdermos menos e seguimos nadando.
Passamos as luzes que havíamos mirado. Eu estava cansado e um tanto desanimado. O Foschini queria prosseguir - comecei a desconfiar que ele tinha um caso com o peixe-boi. Rsrsrsrs. O sol havia se levantado e se escondia atrás das nuvens. Paramos para uma alimentação. Tomei minha malto - à temperatura do mar - que ficou horrível e comi um pêssego em calda que meu colega levou. Não me atrevi a desembrulhar o pão, que devia estar encharcado com água salgada naquela altura do campeonato!
- Vamos voltar - eu sugeri. Já estamos nadando há cerca de duas horas - estimei.
Assim o fizemos. A volta foi mais tranquila - não sei se pelo fato de eu estar renovado pela alimentação ou se pelo extremo desejo de reencontrar com uma cama - seca e quente - para descansar.
Acabamos por não encontrar a Lua - este é o nome do peixe-boi amiga do Foschini. Meu cardiologista agradece.
E, finalmente, após extasiantes 4 horas de emoções agradabilíssimas, coloquei os pés de volta na areia de onde partimos.
E lá fui eu tomar um banho quente, um bom café da manhã e dormir por mais 3 horas para tirar o atraso e compensar pelo "programão" de chuva, vento, ondas, corais, pedras, ouriços, caravelas, águas vivas, currais, escuridão, assaduras, perdição e quase encontro com o peixe-boi proporcionado por MEU AMIGO Foschini.
Cinco destemidos nadadores encaram o desafio de nadar 170 km no Rio São Francisco, entre os estados de Alagoas e Sergipe. Sem se deixar esmorecer pelos fortes redemoinhos e pelas altas ondas provocadas pelo vento terral, eles têm boas histórias para contar. Em meio a um povo humilde e hospitaleiro, marcado por uma forte diferença social eles cumprem seu objetivo: evidenciar a necessidade de preservação do rio e de seu ecossistema. Embarque nesta aventura!
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terça-feira, 30 de agosto de 2011
domingo, 28 de agosto de 2011
Um dia para entrar na história
Acordamos cedo.
Na varanda da pousada, onde era servido o café da manhã, a mesa já estava posta à nossa espera. Dona Dione já estava lá, com sua simpatia de sempre, e preocupada que estivéssemos muito à vontade. A mesa era farta e só eu e o Foschini para comer. Além de todos aqueles ingredientes do café da manhã regional, havia também iogurtes, suco de frutas, banana frita, 3 tipos de queijo e o melhor: uma vista deslumbrante do Rio São Francisco, que corria silenciosamente a 20 metros dali.
Comemos bem, mesmo sabendo que logo entraríamos na água. Em conversas no dia anterior, agendamos para receber os repórteres às 9h da manhã em frente à prefeitura. 30 minutos antes encontraríamos o pessoal administrativo - secretários de esporte, turismo, pesca, etc. - para averiguar as condições mínimas para fazermos o reconhecimento do rio. Precisávamos de uma embarcação motorizada e um piloto experiente para nos alertar sobre os pontos críticos que poderiam representar algum risco para o nadador.
Na verdade, eu me vi ali na posição errada - e tenho me questionado bastante sobre isso ultimamente. Por que é que eu estava num lugar bonito daqueles para procurar os pontos de risco do rio? Eu deveria é estar procurando conhecer os pontos mais bonitos do rio, conhecer sua história, sua população, sua vegetação, sua fauna marinha, etc. Esses fatos têm me levado a pensar e a buscar conciliar as duas coisas e utilizar o teorema de JAQUE, que diz:
"JÁ QUE estou aqui para nadar, vou aproveitar para também curtir o local, sua população, cultura e todas as demais coisas boas da região."
Fizemos várias reuniões com os secretários, saindo de frente da prefeitura indo até o museu Lampião até a sala do Cacau, Secretário de Turismo, que reuniu a todos - já éramos umas dez pessoas neste momento - e discutíamos os próximos passos - guia, barco, entrevistas, etc.
Dirigimo-nos à prainha para nossa largada. Havia um píer onde o barco encostou, ali colocamos nossos pertences, os repórteres embarcaram - não sem antes conduzir entrevistas com os principais secretários da cidade - e combinamos nossa entrada na água.
Mergulhamos de cabeça no rio. Primeiro o Foschini, eu logo atrás. Buscamos o meio do rio e combinamos o ritmo de nado, que deveria ser bem leve no início. Dentro do barco, aquele personagem que poderá ser nossa tábua de salvação: tratava-se do Carlinhos, experiente barqueiro, guarda-vidas e mergulhador da região. Ele conhecia tudo do rio. Mergulhava por ali com frequência - inclusive para resgatar corpos!!!
Ele logo entendeu o que buscávamos e orientou:
- Vamos até o Caçamba para vocês sentirem como é. Tem alguns redemoinhos por lá e não tem jeito - vocês vão ter que passar por eles.
Naquela hora eu me animei. Não sentia mais o receio do dia anterior - talvez por estarmos acompanhados, não sei dizer. Mas eu estava com muita fome de água - o redemoinho seria um temperinho a mais...
Fomos nadando, o barco nos acompanhando ao largo, com o cuidado de não ficar próximo demais dos nadadores. Após alguns poucos minutos, veio o aviso do Carlinhos:
- Olhem ali na frente. Tão vendo aquela pedra? Passem à esquerda dela. fiquem espertos, pois vai ficar mexido...
Não era uma pedra qualquer - era grande e saltava do rio bem no meio de seu leito. As águas se revolviam e formavam inúmeros redemoinhos ao seu redor. Seria impossível escapar deles. Segui na direção indicada. Percebi que o Foschini icomeçou a derivar um pouco para a direita. Eu parei de nadar e gritava feito um louco pra ele se aproximar, mas ele, com a caabeça dentro da água, não conseguiu me ouvir.
Logo tive que deixar de me preocupar com o Foschini, pois, olhando à frente, vi que a hora de demonstrar o meu preparo estava chegando: eles estavam logo ali, a poucos metros de distância. Eram muitos, com cerca de 3 a 4 metros de diâmetro e um olho voraz em seu centro.
- Vamos lá - pensei. Vamos dar um nó neles!!!
Assim, com a cabeça alta, negociei minha entrada no primeiro - não faço ideia de quantos eu atravessei até sair daquela região, mas a sensação era mais ou menos a mesma:
Você entra retinho, absolutamente alinhado, a froça rotatória te dá uma entortada que leva seu tórax e pernas para um lado, enquanto seus braços e sua cabeça estão tentando seguir adiante. Até este ponto, tudo bem. o problema foi quando comecei a sentir os pés afundando. Eles puxavam sim, não tão forte que você não pudesse reagir, mas forte o suficiente para dar aquela descarga de adrenalina. Passei a bater as pernas com força, até sentir que elas estavam nivelando novamente. Com o corpo torto, fiz um bocado de força com os braços. Não foi pouca coisa. Meu objetivo era manter-me na superfície - ali não haveria perigo.
Passei pelo primeiro - depois vieram outros mais - cerca de uns 3 ou 4 e eu passei pelo Caçamba. Já bem tranquilo, gritei pro barco:
- Vão atrás do Foschini! Eu estou bem. Vão ver onde aquele cara foi se meter!
Para mim, o Foschini ia diretamente na direção da grande pedra. Ele deve tê-la visto a tempo, mas ele sofreu um bocado a mais para se safar.
Enquanto esperava o barco trazer notícias do Foschini, fui arremessado com a somatória das forças da correnteza e dos redemoinhos rio abaixo. A água era um verdadeiro espelho e me transmitia a falsa impressão de que eu estava parado - olhei para a frente e vi uma pedra vindo rapidamente na minha direção por cima da água. Era uma pedra grande com cerca de um metro de altura e dois de largura.
- Como será possível? - pensei. Pedras não flutuam e, menos ainda, não correm na superfície da água!!!
Dada minha miopia e meu estado de êxtase emocional, levei alguns segundos até perceber que o rio estava me levando na direção da pedra e, graças à Teoria da Relatividade de Einstein, fui facilmente enganado! Sem muito esforço, saí de seu caminho e passei a esperar meus amigos, que viriam logo atrás.
Foi quando o Carlinhos nos falou:
- Esse foi fácil. Mais pra frente vamos encontrar o Mateus. Vocês querem passar ou querem subir no barco?
Esse é o tipo de pergunta que não se deve fazer para nadadores. Se houver um resquício de preocupação que for, por menor que seja, ele vai aceitar a carona do barco.
Eu respondi ao Carlinhos mais com a razão do que com a emoção:
- Nós estamos aqui para conhecer o rio. Você nos disse que não era perigoso a ponto de comprometer a segurança, então vamos passar nadando, sim!
O Mateus era uma região que foi comentada conosco no dia anterior nas rodas de conversa com a população local. As histórias contadas eram todas trágicas. Mas eu me sentia muito confiante e seguro, pelas palavras do próprio Carlinhos. Seguimos descendo o rio.
Passados poucos minutos, chegamos perto. O Carlinhos orientou o melhor (ou o menos pior) caminho e lá fomos nós. A essa altura do campeonato eu já havia explicado ao Foschini a minha técnica para passar. Eu lhe dizia em alta voz, para que não houvesse dúvidas:
- Quando você estiver chegando perto, levanta a cabeça para olhar. Procure o olho do redemoinho e fuja dele, nade sobre seu braço maior. Mantenha o corpo sempre horizontal e não deixe que te afunde os pés. Em hipótese alguma fique de pé.
Lembro-me que o Foschini ainda retrucou:
- Mas se eu levantar a cabeça pra olhar, os pés afundam.
Não deu tempo para discutir tecnicamente o caso. Eles estavam se aproximando e cada um passou à sua moda. Com uma diferença: no Mateus, os redemoinhos eram ainda maiores e mais fortes - ali eu tive que fazer força pra valer. Busquei enxergar o sentido de rotação, mas com os olhos a apenas 10 ou 15 centímetros acima do nível d'água, fica difícil discernir tudo com precisão.
Passadas estas duas regiões, fomos orientados sobre a Barra do Saco, que também merecia algum respeito. Mas esse nós não chegamos a visitar, pois foi considerado pelo Carlinhos como uma região que seria bem mais tranquila.
O barco nos levou alguns minutos à frente e nadamos em regiões muito tranquilas, com remansos de um lado e canions de grande profundidade no outro. A dica era sempre evitar os remansos, onde a água quase para. Entramos novamente na água para nadar mais um pouco. O Foschini estava branco! Nem parecia muito motivado a nadar - acho que foi o susto do Mateus.
Chegamos a uma região onde o guia nos falou:
- Aqui estamos perto de Angicos, a região onde Lampião foi emboscado e morto. É só entrar por esta mata aqui - apontava na direção da margem de Sergipe - e entrar uns quilômetros.
Voltamos ao barco, que nos levou de volta até o píer de Piranhas. No meio do caminho, divertimo-nos quando o Carlinhos nos indicou pontos de alta correnteza que eu tentei vencer nadando, mas não consegui. tratava-se de uma região onde o leito do rio se estrangulava muito e sua vazão era muito concentrada - valeu pela experiência. A natureza nunca deve ser desafiada - ela deve ser respeitada e eu sabia disso.
Ao chegar em Piranhas, as entrevistas para a TV ainda dentro do barco e a despedida até o almoço, que nos foi oferecido gentilmente pela prefeitura local.
Almoçamos no mirante, com essa vista magnífica da região. Na foto acima, o Eduardo (Secretário de Pesca), o Foschini, os três amigos repórteres da TV Gazeta e eu.
Foi a primeira vez que comi Pitu, um camarão de água doce muito grande! Como se pode ver na foto acima, todos eram naturalistas e, por isso, ninguém comeu o verde - as saladas estavam intactas! Rsrsrsrs.
Se alguém for até a região eu recomendo o local - comida boa e hospitalidade ainda melhor!
Aliás, toda a cidade de Piranhas está de parabéns! Esperamos voltar no dia 4 de outubro para uma grande festa - todos vocês estão convidados!
Na varanda da pousada, onde era servido o café da manhã, a mesa já estava posta à nossa espera. Dona Dione já estava lá, com sua simpatia de sempre, e preocupada que estivéssemos muito à vontade. A mesa era farta e só eu e o Foschini para comer. Além de todos aqueles ingredientes do café da manhã regional, havia também iogurtes, suco de frutas, banana frita, 3 tipos de queijo e o melhor: uma vista deslumbrante do Rio São Francisco, que corria silenciosamente a 20 metros dali.
Comemos bem, mesmo sabendo que logo entraríamos na água. Em conversas no dia anterior, agendamos para receber os repórteres às 9h da manhã em frente à prefeitura. 30 minutos antes encontraríamos o pessoal administrativo - secretários de esporte, turismo, pesca, etc. - para averiguar as condições mínimas para fazermos o reconhecimento do rio. Precisávamos de uma embarcação motorizada e um piloto experiente para nos alertar sobre os pontos críticos que poderiam representar algum risco para o nadador.
Na verdade, eu me vi ali na posição errada - e tenho me questionado bastante sobre isso ultimamente. Por que é que eu estava num lugar bonito daqueles para procurar os pontos de risco do rio? Eu deveria é estar procurando conhecer os pontos mais bonitos do rio, conhecer sua história, sua população, sua vegetação, sua fauna marinha, etc. Esses fatos têm me levado a pensar e a buscar conciliar as duas coisas e utilizar o teorema de JAQUE, que diz:
"JÁ QUE estou aqui para nadar, vou aproveitar para também curtir o local, sua população, cultura e todas as demais coisas boas da região."
Fizemos várias reuniões com os secretários, saindo de frente da prefeitura indo até o museu Lampião até a sala do Cacau, Secretário de Turismo, que reuniu a todos - já éramos umas dez pessoas neste momento - e discutíamos os próximos passos - guia, barco, entrevistas, etc.
Dirigimo-nos à prainha para nossa largada. Havia um píer onde o barco encostou, ali colocamos nossos pertences, os repórteres embarcaram - não sem antes conduzir entrevistas com os principais secretários da cidade - e combinamos nossa entrada na água.
Mergulhamos de cabeça no rio. Primeiro o Foschini, eu logo atrás. Buscamos o meio do rio e combinamos o ritmo de nado, que deveria ser bem leve no início. Dentro do barco, aquele personagem que poderá ser nossa tábua de salvação: tratava-se do Carlinhos, experiente barqueiro, guarda-vidas e mergulhador da região. Ele conhecia tudo do rio. Mergulhava por ali com frequência - inclusive para resgatar corpos!!!
Ele logo entendeu o que buscávamos e orientou:
- Vamos até o Caçamba para vocês sentirem como é. Tem alguns redemoinhos por lá e não tem jeito - vocês vão ter que passar por eles.
Naquela hora eu me animei. Não sentia mais o receio do dia anterior - talvez por estarmos acompanhados, não sei dizer. Mas eu estava com muita fome de água - o redemoinho seria um temperinho a mais...
Fomos nadando, o barco nos acompanhando ao largo, com o cuidado de não ficar próximo demais dos nadadores. Após alguns poucos minutos, veio o aviso do Carlinhos:
- Olhem ali na frente. Tão vendo aquela pedra? Passem à esquerda dela. fiquem espertos, pois vai ficar mexido...
Não era uma pedra qualquer - era grande e saltava do rio bem no meio de seu leito. As águas se revolviam e formavam inúmeros redemoinhos ao seu redor. Seria impossível escapar deles. Segui na direção indicada. Percebi que o Foschini icomeçou a derivar um pouco para a direita. Eu parei de nadar e gritava feito um louco pra ele se aproximar, mas ele, com a caabeça dentro da água, não conseguiu me ouvir.
Logo tive que deixar de me preocupar com o Foschini, pois, olhando à frente, vi que a hora de demonstrar o meu preparo estava chegando: eles estavam logo ali, a poucos metros de distância. Eram muitos, com cerca de 3 a 4 metros de diâmetro e um olho voraz em seu centro.
- Vamos lá - pensei. Vamos dar um nó neles!!!
Assim, com a cabeça alta, negociei minha entrada no primeiro - não faço ideia de quantos eu atravessei até sair daquela região, mas a sensação era mais ou menos a mesma:
Você entra retinho, absolutamente alinhado, a froça rotatória te dá uma entortada que leva seu tórax e pernas para um lado, enquanto seus braços e sua cabeça estão tentando seguir adiante. Até este ponto, tudo bem. o problema foi quando comecei a sentir os pés afundando. Eles puxavam sim, não tão forte que você não pudesse reagir, mas forte o suficiente para dar aquela descarga de adrenalina. Passei a bater as pernas com força, até sentir que elas estavam nivelando novamente. Com o corpo torto, fiz um bocado de força com os braços. Não foi pouca coisa. Meu objetivo era manter-me na superfície - ali não haveria perigo.
Passei pelo primeiro - depois vieram outros mais - cerca de uns 3 ou 4 e eu passei pelo Caçamba. Já bem tranquilo, gritei pro barco:
- Vão atrás do Foschini! Eu estou bem. Vão ver onde aquele cara foi se meter!
Para mim, o Foschini ia diretamente na direção da grande pedra. Ele deve tê-la visto a tempo, mas ele sofreu um bocado a mais para se safar.
Enquanto esperava o barco trazer notícias do Foschini, fui arremessado com a somatória das forças da correnteza e dos redemoinhos rio abaixo. A água era um verdadeiro espelho e me transmitia a falsa impressão de que eu estava parado - olhei para a frente e vi uma pedra vindo rapidamente na minha direção por cima da água. Era uma pedra grande com cerca de um metro de altura e dois de largura.
- Como será possível? - pensei. Pedras não flutuam e, menos ainda, não correm na superfície da água!!!
Dada minha miopia e meu estado de êxtase emocional, levei alguns segundos até perceber que o rio estava me levando na direção da pedra e, graças à Teoria da Relatividade de Einstein, fui facilmente enganado! Sem muito esforço, saí de seu caminho e passei a esperar meus amigos, que viriam logo atrás.
Foi quando o Carlinhos nos falou:
- Esse foi fácil. Mais pra frente vamos encontrar o Mateus. Vocês querem passar ou querem subir no barco?
Esse é o tipo de pergunta que não se deve fazer para nadadores. Se houver um resquício de preocupação que for, por menor que seja, ele vai aceitar a carona do barco.
Eu respondi ao Carlinhos mais com a razão do que com a emoção:
- Nós estamos aqui para conhecer o rio. Você nos disse que não era perigoso a ponto de comprometer a segurança, então vamos passar nadando, sim!
O Mateus era uma região que foi comentada conosco no dia anterior nas rodas de conversa com a população local. As histórias contadas eram todas trágicas. Mas eu me sentia muito confiante e seguro, pelas palavras do próprio Carlinhos. Seguimos descendo o rio.
Passados poucos minutos, chegamos perto. O Carlinhos orientou o melhor (ou o menos pior) caminho e lá fomos nós. A essa altura do campeonato eu já havia explicado ao Foschini a minha técnica para passar. Eu lhe dizia em alta voz, para que não houvesse dúvidas:
- Quando você estiver chegando perto, levanta a cabeça para olhar. Procure o olho do redemoinho e fuja dele, nade sobre seu braço maior. Mantenha o corpo sempre horizontal e não deixe que te afunde os pés. Em hipótese alguma fique de pé.
Lembro-me que o Foschini ainda retrucou:
- Mas se eu levantar a cabeça pra olhar, os pés afundam.
Não deu tempo para discutir tecnicamente o caso. Eles estavam se aproximando e cada um passou à sua moda. Com uma diferença: no Mateus, os redemoinhos eram ainda maiores e mais fortes - ali eu tive que fazer força pra valer. Busquei enxergar o sentido de rotação, mas com os olhos a apenas 10 ou 15 centímetros acima do nível d'água, fica difícil discernir tudo com precisão.
Passadas estas duas regiões, fomos orientados sobre a Barra do Saco, que também merecia algum respeito. Mas esse nós não chegamos a visitar, pois foi considerado pelo Carlinhos como uma região que seria bem mais tranquila.
O barco nos levou alguns minutos à frente e nadamos em regiões muito tranquilas, com remansos de um lado e canions de grande profundidade no outro. A dica era sempre evitar os remansos, onde a água quase para. Entramos novamente na água para nadar mais um pouco. O Foschini estava branco! Nem parecia muito motivado a nadar - acho que foi o susto do Mateus.
Chegamos a uma região onde o guia nos falou:
- Aqui estamos perto de Angicos, a região onde Lampião foi emboscado e morto. É só entrar por esta mata aqui - apontava na direção da margem de Sergipe - e entrar uns quilômetros.
Voltamos ao barco, que nos levou de volta até o píer de Piranhas. No meio do caminho, divertimo-nos quando o Carlinhos nos indicou pontos de alta correnteza que eu tentei vencer nadando, mas não consegui. tratava-se de uma região onde o leito do rio se estrangulava muito e sua vazão era muito concentrada - valeu pela experiência. A natureza nunca deve ser desafiada - ela deve ser respeitada e eu sabia disso.
Ao chegar em Piranhas, as entrevistas para a TV ainda dentro do barco e a despedida até o almoço, que nos foi oferecido gentilmente pela prefeitura local.
Almoçamos no mirante, com essa vista magnífica da região. Na foto acima, o Eduardo (Secretário de Pesca), o Foschini, os três amigos repórteres da TV Gazeta e eu.
Foi a primeira vez que comi Pitu, um camarão de água doce muito grande! Como se pode ver na foto acima, todos eram naturalistas e, por isso, ninguém comeu o verde - as saladas estavam intactas! Rsrsrsrs.
Se alguém for até a região eu recomendo o local - comida boa e hospitalidade ainda melhor!
Aliás, toda a cidade de Piranhas está de parabéns! Esperamos voltar no dia 4 de outubro para uma grande festa - todos vocês estão convidados!
sábado, 27 de agosto de 2011
A linda cidade de Piranhas
Primeiramente vou complementar uma informação da postagem anterior. Tenho que publicar a foto do nosso café da manhã, junto com o Foschini, com nosso big brother, o Rio São Francisco, ao fundo. Esta foto ficou escondida em minha máquina e eu só a achei hoje. Então, aí vai.
Vamos agora voltar a Piranhas. Vejam que paisagem deslumbrante: o centro da cidade fica às margens do Rio e é formada por casinhas coloridas beeeeem antigas - daquelas que têm a porta da sala dando direto na calçada.
Esta cidade é cheia de histórias pois funcionava como um terminal logístico nos velhos tempos (não sei precisar a data exata - talvez algum historiador possa nos ajudar?). Naquela época ela fazia a interligação da navegação fluvial com o modal ferroviário. A cidade dispunha de uma estrada de ferro que se ligava a Petrolina, no sertão pernambucano - cidade hoje alagada pelo reservatório de Xingó. Sua estação pode ser vista na foto acima, no prédio mostrado no canto inferior esquerdo. De quem está olhando a partir do Rio, sua construção aparece bem imponente!
Como pode se ver, nesse ponto, o Rio São Francisco não é muito largo - estimo uns duzentos metros - pouco quando comparado com o que veremos mais próximo da foz.
Fizemos vários contatos com os administradores da cidade e agendamos nosso passeio de reconhecimento do rio para o dia seguinte. Procuramos uma pousada - há inúmeras por lá - todas repletas de pernilongos, para alegria e satisfação do Foschini. Nunca vi uma pessoa mais estressada com pernilongos do que ele. Rsrsrs. Acabamos escolhendo a Pousada Lírios do Vale, de propriedade da Sra. Dione, que é natural da região e que tão bem nos acolheu.
Apesar de a foto estar um tanto escura, dá pra perceber que a simpatia da Dona dione é inversamente proporcional à sua altura. Pensando bem, ao lado do Foschini, qualquer um fica pequeno, não é mesmo?
Percebam que sua pousada dava fundos para o Rio - fator que nos interessou e muito. Não dá pra ver direito, mas atrás deles, no Rio, está ancorada uma embarcação típica da região: a Canoa de Tolda. Ela tem dois mastros, seu projeto original é holandês e só existem 3 unidades remanescentes no Brasil: uma está aqui, outra em cidade mais próxima à foz e outra em museu. Para ilustrar melhor, anexo uma foto tirada da internet:
Linda, não? Pois ela vai nos acompanhar no primeiro dia de nossa travessia, juntamente com tantos outros barcos e caiaques. Será uma festa na cidade. Coisa de cidade do interior, que ainda curte a simplicidade como meio de ser feliz!
Tive uma verdadeira aula sobre Canoas de Tolda com o pessoal da cidade. Não vou me arriscar a discorrer sobre o tema para não parecer (mais) chato, mas acreditem, ali você respira parte da história do Brasil.
Isto sem falar no Lampião, rei do cangaço, que habitava a região fazendo justiça por seus próprios meios e que foi emboscado no sertão de Sergipe (passamos perto de lá nadando) no ano de 1938. Suas cabeças foram cortadas e expostas em Piranhas na escadaria da igreja. Nós conhecemos pessoalmente o local - há fotos na Wikipedia sobre o fato - e Dona Dione nos contou muitas histórias dessa época.
Ao final da tarde, o momento tão esperado chegou: hora de entrar no Rio e saber o que nos esperava. Já eram mais de 5 horas da tarde quando entramos pelos fundos da pousada nas cristalinas águas do Velho Chico. Sua beleza impressiona. O primeiro contato é muito importante, pois é o momento em que o nadador entra em sintonia com o rio - eles têm que ser amigos, afinal, vão passar muitas horas juntos.
Nadador que é esperto sabe que tem que respeitar o rio. Ele está lá há muito tempo - nós somos os intrusos, que viemos visitar um amigo que vai nos acolher por alguns dias. Ele é soberano - nós não somos nem titica de galinha...
A água estava numa temperatura ótima - estimo uns 24 ou 25 graus. Muito boa para uma travessia. O chão, próximo à margem, era firme, havia rochas enormes que saltavam da água com mais de um metro de altura.
Registrei uma foto com um colega ribeirinho sobre uma dessas pedras. Ao fundo à direita, a Canoa de Tolda com suas velas recolhidas.
Fomos entrando, primeiro passo: 10 cm de profundidade; segundo, 15 cm; terceiro, 20 cm; quarto, 30 cm; quinto e último: 40 metros de profundidade!!! Eu me perguntava se aquele ambiente era real! Aquilo era um verdadeiro abismo coberto por água. Algumas pessoas na cidade falavam em até 90 metros em alguns lugares. Fiquei impressionado com a água, que no raso era cristalina e, no fundo, não permitia enxergar sua real profundidade. Mas esse "fundo" não estava além de uns seis metros de distância da margem.
Fiquei preocupado com a correnteza e fomos muito cautelosos para não entrar no meio do rio e sermos levados rio abaixo. Mas ela não era assim tão forte. Conseguimos nadar rio acima sem muito esforço e depois nos deliciamos soltando o braço rio abaixo. Foi maravilhoso.
Observamos vários redemoinhos que se formavam aqui e ali no leito do rio. Eles são formados pelo desvio do curso da água pela irregularidade do leito do rio. A água desvia em pedras e ressaltos e ressurge na superfície com força, formando redemoinhos de variados tamanhos. O que mais me impressionou foi ver alguns objetos flutuando serem capturados pelos redemoinhos e sumariamente sugados para o fundo - eu olhava por debaixo da água enquanto nadava. Já havíamos ouvido muitas histórias na cidade de pessoas que morreram nessas condições. Apesar de, naquele ponto, o risco não se apresentar como sério, sabíamos que, rio abaixo, as regiões de Caçamba e o "terrível" Mateus nos aguardavam. Aqueles seriam os pontos críticos que conheceríamos no dia seguinte, com a ajuda de um barco de apoio e a presença da TV Gazeta - a Rede Globo da região.
Eu saí da água e, pela primeira vez em minha vida, estava com medo. Não era um medão, mas um medinho que é até saudável. Comentei com o Foschini - ele não se impressionou o mesmo tanto que eu - certamente por sua vasta experiência aquática. Mas fiz questão de falar, para não ficar um sentimento represado. Afinal, quem tem, tem medo - já diz o ditado.
Voltamos para o quarto para, na companhia dos pernilongos, tomar um banho quente e dar uma volta pela cidade antes de dormir. Deitei-me pensando na melhor estratégia para o dia seguinte. As ideias estavam fervilhando em minha cabeça - como vou enxergar todas a pedras, inclusive as submersas? como vou passar pelos redemoinhos? quem pode nos orientar? onde conseguir um guia?, entre tantas outras dúvidas.
Após uma boa noite de sono (a primeira em dois dias), estávamos refeitos e prontos para o reconhecimento, que passo a descrever na próxima postagem.
Vamos agora voltar a Piranhas. Vejam que paisagem deslumbrante: o centro da cidade fica às margens do Rio e é formada por casinhas coloridas beeeeem antigas - daquelas que têm a porta da sala dando direto na calçada.
Esta cidade é cheia de histórias pois funcionava como um terminal logístico nos velhos tempos (não sei precisar a data exata - talvez algum historiador possa nos ajudar?). Naquela época ela fazia a interligação da navegação fluvial com o modal ferroviário. A cidade dispunha de uma estrada de ferro que se ligava a Petrolina, no sertão pernambucano - cidade hoje alagada pelo reservatório de Xingó. Sua estação pode ser vista na foto acima, no prédio mostrado no canto inferior esquerdo. De quem está olhando a partir do Rio, sua construção aparece bem imponente!
Como pode se ver, nesse ponto, o Rio São Francisco não é muito largo - estimo uns duzentos metros - pouco quando comparado com o que veremos mais próximo da foz.
Fizemos vários contatos com os administradores da cidade e agendamos nosso passeio de reconhecimento do rio para o dia seguinte. Procuramos uma pousada - há inúmeras por lá - todas repletas de pernilongos, para alegria e satisfação do Foschini. Nunca vi uma pessoa mais estressada com pernilongos do que ele. Rsrsrs. Acabamos escolhendo a Pousada Lírios do Vale, de propriedade da Sra. Dione, que é natural da região e que tão bem nos acolheu.
Apesar de a foto estar um tanto escura, dá pra perceber que a simpatia da Dona dione é inversamente proporcional à sua altura. Pensando bem, ao lado do Foschini, qualquer um fica pequeno, não é mesmo?
Percebam que sua pousada dava fundos para o Rio - fator que nos interessou e muito. Não dá pra ver direito, mas atrás deles, no Rio, está ancorada uma embarcação típica da região: a Canoa de Tolda. Ela tem dois mastros, seu projeto original é holandês e só existem 3 unidades remanescentes no Brasil: uma está aqui, outra em cidade mais próxima à foz e outra em museu. Para ilustrar melhor, anexo uma foto tirada da internet:
Linda, não? Pois ela vai nos acompanhar no primeiro dia de nossa travessia, juntamente com tantos outros barcos e caiaques. Será uma festa na cidade. Coisa de cidade do interior, que ainda curte a simplicidade como meio de ser feliz!
Tive uma verdadeira aula sobre Canoas de Tolda com o pessoal da cidade. Não vou me arriscar a discorrer sobre o tema para não parecer (mais) chato, mas acreditem, ali você respira parte da história do Brasil.
Isto sem falar no Lampião, rei do cangaço, que habitava a região fazendo justiça por seus próprios meios e que foi emboscado no sertão de Sergipe (passamos perto de lá nadando) no ano de 1938. Suas cabeças foram cortadas e expostas em Piranhas na escadaria da igreja. Nós conhecemos pessoalmente o local - há fotos na Wikipedia sobre o fato - e Dona Dione nos contou muitas histórias dessa época.
Ao final da tarde, o momento tão esperado chegou: hora de entrar no Rio e saber o que nos esperava. Já eram mais de 5 horas da tarde quando entramos pelos fundos da pousada nas cristalinas águas do Velho Chico. Sua beleza impressiona. O primeiro contato é muito importante, pois é o momento em que o nadador entra em sintonia com o rio - eles têm que ser amigos, afinal, vão passar muitas horas juntos.
Nadador que é esperto sabe que tem que respeitar o rio. Ele está lá há muito tempo - nós somos os intrusos, que viemos visitar um amigo que vai nos acolher por alguns dias. Ele é soberano - nós não somos nem titica de galinha...
A água estava numa temperatura ótima - estimo uns 24 ou 25 graus. Muito boa para uma travessia. O chão, próximo à margem, era firme, havia rochas enormes que saltavam da água com mais de um metro de altura.
Registrei uma foto com um colega ribeirinho sobre uma dessas pedras. Ao fundo à direita, a Canoa de Tolda com suas velas recolhidas.
Fomos entrando, primeiro passo: 10 cm de profundidade; segundo, 15 cm; terceiro, 20 cm; quarto, 30 cm; quinto e último: 40 metros de profundidade!!! Eu me perguntava se aquele ambiente era real! Aquilo era um verdadeiro abismo coberto por água. Algumas pessoas na cidade falavam em até 90 metros em alguns lugares. Fiquei impressionado com a água, que no raso era cristalina e, no fundo, não permitia enxergar sua real profundidade. Mas esse "fundo" não estava além de uns seis metros de distância da margem.
Fiquei preocupado com a correnteza e fomos muito cautelosos para não entrar no meio do rio e sermos levados rio abaixo. Mas ela não era assim tão forte. Conseguimos nadar rio acima sem muito esforço e depois nos deliciamos soltando o braço rio abaixo. Foi maravilhoso.
Observamos vários redemoinhos que se formavam aqui e ali no leito do rio. Eles são formados pelo desvio do curso da água pela irregularidade do leito do rio. A água desvia em pedras e ressaltos e ressurge na superfície com força, formando redemoinhos de variados tamanhos. O que mais me impressionou foi ver alguns objetos flutuando serem capturados pelos redemoinhos e sumariamente sugados para o fundo - eu olhava por debaixo da água enquanto nadava. Já havíamos ouvido muitas histórias na cidade de pessoas que morreram nessas condições. Apesar de, naquele ponto, o risco não se apresentar como sério, sabíamos que, rio abaixo, as regiões de Caçamba e o "terrível" Mateus nos aguardavam. Aqueles seriam os pontos críticos que conheceríamos no dia seguinte, com a ajuda de um barco de apoio e a presença da TV Gazeta - a Rede Globo da região.
Eu saí da água e, pela primeira vez em minha vida, estava com medo. Não era um medão, mas um medinho que é até saudável. Comentei com o Foschini - ele não se impressionou o mesmo tanto que eu - certamente por sua vasta experiência aquática. Mas fiz questão de falar, para não ficar um sentimento represado. Afinal, quem tem, tem medo - já diz o ditado.
Voltamos para o quarto para, na companhia dos pernilongos, tomar um banho quente e dar uma volta pela cidade antes de dormir. Deitei-me pensando na melhor estratégia para o dia seguinte. As ideias estavam fervilhando em minha cabeça - como vou enxergar todas a pedras, inclusive as submersas? como vou passar pelos redemoinhos? quem pode nos orientar? onde conseguir um guia?, entre tantas outras dúvidas.
Após uma boa noite de sono (a primeira em dois dias), estávamos refeitos e prontos para o reconhecimento, que passo a descrever na próxima postagem.
sexta-feira, 26 de agosto de 2011
O primeiro dia da viagem
Fui até Maceió para acertar detalhes de nossa Maratona Aquática com a ajuda do incansável Foschini. Ele me pegou no aeroporto às 2:30h da manhã e já pegamos a estrada para o interior. Nosso primeiro destino era a cidade de Porto Real do Colégio, às margens do Rio São Francisco, a quarta cidade de nosso roteiro e que ainda precisava ser contatada para acertar os detalhes de apoio à prova.
Ao entrar no carro, liguei meu super GPS para entender minimamente o caminho que tomaríamos. O Foschini, apesar de morar há 15 anos em Maceió, pegou a estrada certa, mas na direção errada. Após alguns quilômetros, fizemos o retorno e voltamos. De um posto de gasolina a outro fomos perguntando até acertarmos o caminho - éramos dois paulistas perdidos no interior de Alagoas.
Pela manhã, por volta das 7 horas, estávamos em nosso destino. Passamos a ponte por cima do rio e voltamos a pé para algumas fotos. Aproveitamos para tomar um café regional - comidinha básica e bem leve: Macaxeira, tapioca, cuzcuz, ovo frito, bolo de aipim, carne de sol, queijo de coalho e aqueles ingredientes com os quais estamos mais acostumados: leite, café, pão e manteiga.
Saí "rolando" do restaurante - foi um bom começo de viagem. Fomos até a prefeitura local e conversamos com as autoridades locais sobre a organização da prova. O Rio São Francisco mostrava-se imponente e vasto como um oceano. Vejam abaixo a vista de cima da ponte na divisa entre os estados.
Fomos bem recebidos pelo pessoal de Porto Real. Logo pegamos nosso caminho em direção à cidade de Piranhas, de onde começaríamos nossa Maratona Aquática no começo de outubro. Por recomendação do pessoal da cidade e dada a proximidade de Sergipe, fomos aconselhados a pegar as rodovias daquele estado e cruzar para Alagoas na altura da usina de Xingó, em Canindé do São Francisco. Lá fomos nós.
Eu ainda não havia dormido aquela noite e logo peguei no sono - dei algumas "fisgadas" no meio da viagem. Enquanto isso, o Foschini seguia dirigindo. Quando acordei e vi a placa: "Cuba a 15 Km" eu virei pro Foschini e logo vi que havia algo errado. Após "algumas voltinhas" a mais - o Foschini acha que andamos uns 30 km a mais, eu acho que foram 300! (Rsrsrsrsrs) - paramos para almoçar num restaurante à beira da estrada, já a 15 Km de Canindé - estávamos quase chegando. Almoção básico regional, com carne bovina no molho, arroz, feijão roxinho, feijão de corda, macaxeira, saladas e não me lembro mais o quê. Só sei que, após aquelas duas refeições eu já estava devendo um treinão de 10 Km correnteza acima. Rsrsrsrs. O restaurante tinha uma rede de descanso muito convidativa onde me deitei pela eternidade de 30 segundos - pena que não havia tempo, pois aquilo é um vidão dos bons!
Por volta das 14:30h chegamos a Piranhas, cidadezinha linda de morrer - é tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional - às margens do Rio. As emoções ali foram tantas que deixo para a próxima postagem.
Obrigado por sua companhia até este ponto!
Ao entrar no carro, liguei meu super GPS para entender minimamente o caminho que tomaríamos. O Foschini, apesar de morar há 15 anos em Maceió, pegou a estrada certa, mas na direção errada. Após alguns quilômetros, fizemos o retorno e voltamos. De um posto de gasolina a outro fomos perguntando até acertarmos o caminho - éramos dois paulistas perdidos no interior de Alagoas.
Pela manhã, por volta das 7 horas, estávamos em nosso destino. Passamos a ponte por cima do rio e voltamos a pé para algumas fotos. Aproveitamos para tomar um café regional - comidinha básica e bem leve: Macaxeira, tapioca, cuzcuz, ovo frito, bolo de aipim, carne de sol, queijo de coalho e aqueles ingredientes com os quais estamos mais acostumados: leite, café, pão e manteiga.
Saí "rolando" do restaurante - foi um bom começo de viagem. Fomos até a prefeitura local e conversamos com as autoridades locais sobre a organização da prova. O Rio São Francisco mostrava-se imponente e vasto como um oceano. Vejam abaixo a vista de cima da ponte na divisa entre os estados.
Fomos bem recebidos pelo pessoal de Porto Real. Logo pegamos nosso caminho em direção à cidade de Piranhas, de onde começaríamos nossa Maratona Aquática no começo de outubro. Por recomendação do pessoal da cidade e dada a proximidade de Sergipe, fomos aconselhados a pegar as rodovias daquele estado e cruzar para Alagoas na altura da usina de Xingó, em Canindé do São Francisco. Lá fomos nós.
Eu ainda não havia dormido aquela noite e logo peguei no sono - dei algumas "fisgadas" no meio da viagem. Enquanto isso, o Foschini seguia dirigindo. Quando acordei e vi a placa: "Cuba a 15 Km" eu virei pro Foschini e logo vi que havia algo errado. Após "algumas voltinhas" a mais - o Foschini acha que andamos uns 30 km a mais, eu acho que foram 300! (Rsrsrsrsrs) - paramos para almoçar num restaurante à beira da estrada, já a 15 Km de Canindé - estávamos quase chegando. Almoção básico regional, com carne bovina no molho, arroz, feijão roxinho, feijão de corda, macaxeira, saladas e não me lembro mais o quê. Só sei que, após aquelas duas refeições eu já estava devendo um treinão de 10 Km correnteza acima. Rsrsrsrs. O restaurante tinha uma rede de descanso muito convidativa onde me deitei pela eternidade de 30 segundos - pena que não havia tempo, pois aquilo é um vidão dos bons!
Por volta das 14:30h chegamos a Piranhas, cidadezinha linda de morrer - é tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional - às margens do Rio. As emoções ali foram tantas que deixo para a próxima postagem.
Obrigado por sua companhia até este ponto!
terça-feira, 23 de agosto de 2011
Inteligência emocional e inteligência racional
O Alessandro anda inspirado e enviou mais uma postagem para nosso blog, que transcrevo abaixo. Eu voto para o Alê se tornar um imortal da ABL...rsrs. Abraço, amigo!
Não, não estamos falando de nenhum livro de auto-ajuda nem de nenhuma “qualidade profissional”. Estou me referindo aos tutores do nosso projeto.
Se dependesse da vontade do Edmundo Foschini, já teríamos nadado há bastante tempo, e seríamos acompanhados por, no máximo, uns dois caiaques. Ele é decidido, determinado, não tem “tempo ruim”. Vislumbrou a possibilidade de pormos nossos limites à prova e defendermos uma causa nobre, que é a preservação de nossas águas. Hoje muitos dão valor a essa causa, mas poucos fazem efetivamente algo. Infelizmente talvez acordemos tarde demais pra essa realidade. Mas nosso incansável guru aquático idealizou esse grande desafio que, com um pouco de sorte e muito treino, vai marcar nossas vidas!
Já o Percival Milani é o retrato da natação em números. Minucioso em cada detalhe no que tange à segurança, litros de malto, quilometragem, ventos, correntezas, etc., etc., etc.
Esses detalhes são fundamentais para que o sucesso nos acompanhe durante os 170 Km de natação e em todos os que cercam uma aventura dessa magnitude.
Com uma equipe desse porte, resta pra nós, “mortais”, treinar - e muito - para que possamos chegar ao nosso destino com o objetivo cumprido!
A origem do projeto
O texto abaixo foi escrito pelo atleta e amigo Alessandro, um dos "quase-galãs da Globo" que vão nadar conosco! Valeu, Alê!
O pai do desafio (ou avô rsrs) é o Foschini. Ele carrega consigo esse projeto há algum tempo que, em sua origem, tinha outro formato. Em função das dificuldades na execução ele não foi posto em prática, ficou guardado, mas não esquecido.
No princípio desse ano, ao ver na TV um comercial que mostrava as cidades de Piranhas e Penedo, a vontade de ressuscitar o projeto ganhou força e eu liguei pro Edmundo sugerindo que retomássemos o projeto. Deu no que deu! O Projeto ganhou um novo formato, uma equipe “selecionada” e uma rede de apoio tem sido trabalhada com o intuito de realizarmos uma grande travessia.
Se o Foschini é o avô do projeto, o Percival é o pai. Tínhamos uma idéia, e o Percival a transformou em projeto, que hoje é um guia para que possamos buscar o apoio necessário para realizarmos e divulgarmos a travessia.
É motivador ver nadadores consagrados, que têm em seus currículos provas internacionais com Capri – Nápoles na Itália, Canal da Mancha, tão empenhados e extremamente comprometidos com o projeto. Estou falando do Percival Milani e do Edmundo Foschini, exemplos para todos nós, que fazemos do esporte uma filosofia de vida.
Treinar para um desafio desse porte não requer apenas capacidade técnica, vai muito além. Como não somos atletas profissionais, temos que adequar nossa rotina profissional aos treinos. Eu tenho me esforçado muito para fazer jus à confiança que foi depositada em mim. É um privilégio fazer parte dessa equipe!
quarta-feira, 17 de agosto de 2011
Agenda da viagem
Embarco daqui a uma hora para Maceió. Lá encontrarei meu amigo Foschini e, ainda de nadrugada, nos dirigiremos ao interior do estado. Temos alguns compromissos para encaminhar. Por exemplo, temos que passar na prefeitura de Porto Real do Colégio, entregar-lhes os ofícios de solicitação da infraestrutura mínima para a prova.
Já falei pro Foschini: "Precisamos mesmo ir de carro? Vamos nadando! São só 50 Km rio acima." Rsrsrsrs. OK, a papelada não iria suportar. O negócio é ir de carro mesmo!
Tínhamos uma reunião agendada com a CHESF, que controla a usina de Xingó, mas eles entraram em greve e não teremos como contatá-los. Conhecer o ritmo de trabalho da usina é muito importante para nosso projeto, pois os tempos de travessia podem variar enormemente em função do volume de água por eles liberado.
Vamos ver como fazer...
Observando a região no Google Earth, percebe-se que, em alguns trechos, a largura do rio supera um quilômetro. Vejam a foto abaixo, tirada de lá.
É muita água, não? A característica que eu gostaria de averiguar é a intensidade da correnteza num rio assim largo. Se for muito fraca, os tempos de travessia podem crescer até 50%. A foto acima fica no maior trecho da travessia - no segundo dia, quando nadaremos 57 Km.
Na sexta-feira teremos o acompanhamento da Rede Globo local - TV Gazeta. Vamos aproveitar e fazer um reconhecimento da região e treinar um pouco.
No sábado faremos um treinão de cinco horas - para manter a forma e monitorar o ritmo de nado.
Bom, vamos em frente!
Já é hora de embarcar - até breve!
Já falei pro Foschini: "Precisamos mesmo ir de carro? Vamos nadando! São só 50 Km rio acima." Rsrsrsrs. OK, a papelada não iria suportar. O negócio é ir de carro mesmo!
Tínhamos uma reunião agendada com a CHESF, que controla a usina de Xingó, mas eles entraram em greve e não teremos como contatá-los. Conhecer o ritmo de trabalho da usina é muito importante para nosso projeto, pois os tempos de travessia podem variar enormemente em função do volume de água por eles liberado.
Vamos ver como fazer...
Observando a região no Google Earth, percebe-se que, em alguns trechos, a largura do rio supera um quilômetro. Vejam a foto abaixo, tirada de lá.
É muita água, não? A característica que eu gostaria de averiguar é a intensidade da correnteza num rio assim largo. Se for muito fraca, os tempos de travessia podem crescer até 50%. A foto acima fica no maior trecho da travessia - no segundo dia, quando nadaremos 57 Km.
Na sexta-feira teremos o acompanhamento da Rede Globo local - TV Gazeta. Vamos aproveitar e fazer um reconhecimento da região e treinar um pouco.
No sábado faremos um treinão de cinco horas - para manter a forma e monitorar o ritmo de nado.
Bom, vamos em frente!
Já é hora de embarcar - até breve!
terça-feira, 16 de agosto de 2011
A extensão do desafio...
É interessante apresentar alguns dados sobre esta travessia única no Brasil. Não quero dizer que não houve travessias em outros rios brasileiros - todos nós sabemos que sim. No entanto, o que difere e chama a atenção nesta aqui é seu cunho ambiental e sua função de chamar a atenção para a realidade sustentável do Baixo São Francisco. Falaremos sobre isto em outra ocasião - hoje gostaria de salientar os pontos marcantes de nossa travessia.
Largaremos da cidade de Piranhas, à jusante da usina de Xingó, no dia 4 de outubro próximo. É o dia de São Francisco, padroeiro do rio e de várias cidades na região. A previsão é que nademos por volta de oito horas até chegar no município de Pão de Açúcar, a 45 Km de água do ponto de origem. O trajeto tem paisagens lindas, mas também tem os pontos que merecem atenção - redemoinhos e corredeiras. Faremos uma visita de reconhecimento da região ainda esta semana - posteriormente, trarei mais informações.
No segundo dia, o trajeto é ainda maior - são 57 Km de nado até a cidade de Traipu. Estimamos cerca de dez a onze horas de nado. Neste ponto, os atletas já carregam o cansaço do dia anterior. Não será tarefa fácil. Mas São Francisco vai ajudar...
No terceiro dia, o trajeto até a cidade de Porto Real do Colégio tem aproximadamente 33 Km de extensão natatória. Estimamos cerca de seis a sete horas de nado. Os efeitos da maré começam a se apresentar (por nossas estimativas - verificaremos a realidade in loco) e passamos a administrar os horários de nado em função das marés. Os intervalos de descanso ficam mais complicados e os atletas já estão exaustos.
No quarto e último dia nadamos mais 35 Km até a cidade de Penedo no mesmo tempo estimado para a etapa anterior. Os sobreviventes (rsrsrsrs) participam de comemoração no dia seguinte em um evento comemorativo - travessias da Federação Alagoana de Natação - em Penedo.
Só para dar um gostinho, vejam uma foto aérea do Rio próximo à cidade de Traipu.
Se é bonito assim de verdade, na semana que vem eu conto para vocês...
Largaremos da cidade de Piranhas, à jusante da usina de Xingó, no dia 4 de outubro próximo. É o dia de São Francisco, padroeiro do rio e de várias cidades na região. A previsão é que nademos por volta de oito horas até chegar no município de Pão de Açúcar, a 45 Km de água do ponto de origem. O trajeto tem paisagens lindas, mas também tem os pontos que merecem atenção - redemoinhos e corredeiras. Faremos uma visita de reconhecimento da região ainda esta semana - posteriormente, trarei mais informações.
No segundo dia, o trajeto é ainda maior - são 57 Km de nado até a cidade de Traipu. Estimamos cerca de dez a onze horas de nado. Neste ponto, os atletas já carregam o cansaço do dia anterior. Não será tarefa fácil. Mas São Francisco vai ajudar...
No terceiro dia, o trajeto até a cidade de Porto Real do Colégio tem aproximadamente 33 Km de extensão natatória. Estimamos cerca de seis a sete horas de nado. Os efeitos da maré começam a se apresentar (por nossas estimativas - verificaremos a realidade in loco) e passamos a administrar os horários de nado em função das marés. Os intervalos de descanso ficam mais complicados e os atletas já estão exaustos.
No quarto e último dia nadamos mais 35 Km até a cidade de Penedo no mesmo tempo estimado para a etapa anterior. Os sobreviventes (rsrsrsrs) participam de comemoração no dia seguinte em um evento comemorativo - travessias da Federação Alagoana de Natação - em Penedo.
Só para dar um gostinho, vejam uma foto aérea do Rio próximo à cidade de Traipu.
Se é bonito assim de verdade, na semana que vem eu conto para vocês...
segunda-feira, 15 de agosto de 2011
Confissões de um atleta
Aconteceu assim. Num belo dia de treino - daqueles treinos que mais parecem de atletismo do que de natação, dadas as distâncias nadadas - eu cheguei para a professora à beira da piscina e confessei:
- Eu roubei no treino!
Primeiramente acho que ela ficou embasbacada - o que tem a ver um marmanjão fazer um comentário desses? Ela até sabia que os treinos estavam bastante pesados mas e daí?
Roubar no treino é uma lembrança que carrego comigo desde os tempos de infância. Mas eu sempre fui muito Caxias e me recordo muito de meus amigos fazendo suas "otimizações" por conta própria. Isso me custava caro, pois eu acabava ficando mais tempo no treino enquanto alguns poucos saíam mais cedo para tomar sol ou conversar. Não citarei nomes aqui para não provocar um furor na multidão... rsrsrsrs.
Voltando ao ocorrido esta semana, continuei a me explicar:
- Roubei pra mais. Ao invés de fazer os 7200m eu fiz 8 mil! Roubei na sequência x e nos tiros y - eu lhe dava os detalhes.
Ela riu e disse: - Tem que internar mesmo! Não tem jeito.
Acabei gostando da ideia e "roubo negativamente" cada vez mais. Sempre que posso, dou um algo a mais que, espero, vá me ajudar no meio daquele riozão sem fim.
Roube negativamente você também. Em tudo o que você faz, dê aquele "plus adicional a mais". O mundo agradece!
- Eu roubei no treino!
Primeiramente acho que ela ficou embasbacada - o que tem a ver um marmanjão fazer um comentário desses? Ela até sabia que os treinos estavam bastante pesados mas e daí?
Roubar no treino é uma lembrança que carrego comigo desde os tempos de infância. Mas eu sempre fui muito Caxias e me recordo muito de meus amigos fazendo suas "otimizações" por conta própria. Isso me custava caro, pois eu acabava ficando mais tempo no treino enquanto alguns poucos saíam mais cedo para tomar sol ou conversar. Não citarei nomes aqui para não provocar um furor na multidão... rsrsrsrs.
Voltando ao ocorrido esta semana, continuei a me explicar:
- Roubei pra mais. Ao invés de fazer os 7200m eu fiz 8 mil! Roubei na sequência x e nos tiros y - eu lhe dava os detalhes.
Ela riu e disse: - Tem que internar mesmo! Não tem jeito.
Acabei gostando da ideia e "roubo negativamente" cada vez mais. Sempre que posso, dou um algo a mais que, espero, vá me ajudar no meio daquele riozão sem fim.
Roube negativamente você também. Em tudo o que você faz, dê aquele "plus adicional a mais". O mundo agradece!
sábado, 13 de agosto de 2011
Ralando
Não conheço fórmula mágica para se atingir um grande objetivo: tem que "ralar" bastante. No esporte, como na vida, o tempo conta contra você. É a teoria do pau-de-sebo: se você parar de subir, começa imediatamente a descer.
Ao assumir como objetivo nadar os 170 Km eu já imaginava o preço a pagar. Ele vem em suaves prestações.
Você começa acordando de madrugada para nadar cedinho, antes do trabalho. Não importa de faz 5 graus quando você sai de casa numa manhã de inverno - você vai e pronto.
E, ao chegar na piscina, tem que "sentar o braço". Por mais solitário que seja o treino, tem sempre um cronômetro por lá para te acompanhar. Ele faz toda a diferença, pois ele te mostra como você realmente está - sem firulas. Seu desempenho depende apenas de você. Seu sucesso ou seu fracasso também.
Também acabaram seus finais de semana e viagens também.
Seus filmes prediletos no final da noite? Esqueça - você tem que dormir cedo.
E aquele café da manhã com um lanchinho maravilhoso? Nem pensar, pois a digestão dos frios não te deixam nadar direito.
Sabe aqueles dias em que você acorda e não está a fim de ir? Esqueça - não tem opção - você tem que ir!
E aqueles dias em que você trabalhou como um condenado e ainda tem que treinar? Também não tem escapatória. Essa rotina é desgastante, mas é a única maneira de vencer se você tem recursos limitados - recursos de tempo, de condicionamento físico, de idade, de organismo, etc.
É como dizem: "O sucesso é doce, mas costuma ter cheiro de suor."
Ao assumir como objetivo nadar os 170 Km eu já imaginava o preço a pagar. Ele vem em suaves prestações.
Você começa acordando de madrugada para nadar cedinho, antes do trabalho. Não importa de faz 5 graus quando você sai de casa numa manhã de inverno - você vai e pronto.
E, ao chegar na piscina, tem que "sentar o braço". Por mais solitário que seja o treino, tem sempre um cronômetro por lá para te acompanhar. Ele faz toda a diferença, pois ele te mostra como você realmente está - sem firulas. Seu desempenho depende apenas de você. Seu sucesso ou seu fracasso também.
Também acabaram seus finais de semana e viagens também.
Seus filmes prediletos no final da noite? Esqueça - você tem que dormir cedo.
E aquele café da manhã com um lanchinho maravilhoso? Nem pensar, pois a digestão dos frios não te deixam nadar direito.
Sabe aqueles dias em que você acorda e não está a fim de ir? Esqueça - não tem opção - você tem que ir!
E aqueles dias em que você trabalhou como um condenado e ainda tem que treinar? Também não tem escapatória. Essa rotina é desgastante, mas é a única maneira de vencer se você tem recursos limitados - recursos de tempo, de condicionamento físico, de idade, de organismo, etc.
É como dizem: "O sucesso é doce, mas costuma ter cheiro de suor."
sexta-feira, 12 de agosto de 2011
11111
O dia de hoje foi especial. Fiz o maior treino em piscina desde que comecei a treinar para encarar a travessia no Velho Chico. Para quem estava quase parado há dois meses, considerei um bom resultado! Foram 11.111 metros.
O requinte do número é coisa de engenheiros. Mas o fato é que eu consegui fazer o treino padrão do Agnaldo, num total de 7200 metros. Ao final, sentia-me bem o suficiente para dar uma leve complementada de mais 3800 metros - numa puxada só. Depois, era só soltar mais uns cem metros - foi quando percebi a proximidade do número mágico. Pedi pra Dani, nossa querida instrutora, para medir 5 metros e meio ao longo da piscina. Ela não entendeu nada e, é claro, achou que eu estava "tirando uma da cara dela".
Essas mulheres! Sempre desconfiadas!
Eu saí nadando até os 5,5 metros, dei uma virada sem parede e voltei, completando os 11 metros faltantes. Aí ela entendeu onde eu queria chegar e, ao saber do volume nadado, não hesitou em comentar:
- Já liguei pro (Hospital Psiquiátrico) Bezerra de Menezes. Quando você sair da Atlantis, eles estarão te esperando lá fora. Não adianta resistir...
O requinte do número é coisa de engenheiros. Mas o fato é que eu consegui fazer o treino padrão do Agnaldo, num total de 7200 metros. Ao final, sentia-me bem o suficiente para dar uma leve complementada de mais 3800 metros - numa puxada só. Depois, era só soltar mais uns cem metros - foi quando percebi a proximidade do número mágico. Pedi pra Dani, nossa querida instrutora, para medir 5 metros e meio ao longo da piscina. Ela não entendeu nada e, é claro, achou que eu estava "tirando uma da cara dela".
Essas mulheres! Sempre desconfiadas!
Eu saí nadando até os 5,5 metros, dei uma virada sem parede e voltei, completando os 11 metros faltantes. Aí ela entendeu onde eu queria chegar e, ao saber do volume nadado, não hesitou em comentar:
- Já liguei pro (Hospital Psiquiátrico) Bezerra de Menezes. Quando você sair da Atlantis, eles estarão te esperando lá fora. Não adianta resistir...
A nadadeira e o casamento
Como já dito anteriormente, fiz uso frequente das nadadeiras de modo a continuar meus treinos sem exigir demais das articulações. Nadar com as nadadeiras é ótimo - o treino rende, você acaba mais rápido, você se motiva com seus tempos, fica mais imune à ondulação da água, se aproxima do pessoal mais rápido que você, etc. No entanto, não são somente rosas - no meu caso, elas começaram a machucar os pés, mais especificamente o esquerdo, devido à fricção num ponto exatamente ao lado do tornozelo.
Numa situação dessas, o que fazer? Bem, eu usei um curativo no pé, que já estava em carne viva. Depois de uns 500 metros, o curativo soltou - é claro que iria soltar, né pedro-bó! A coisa estava pegando. Como é possível que uma interferência tão pequena pudesse causar tamanho transtorno?
A segunda opção - emergencial e com os instrumentos de que dispunha - foi usar o mesmo curativo anexado desta vez à nadadeira. Até que durou bem mais e funcionou pelo resto do dia. Mas não passou disso.
No dia seguinte fui nadar de meia - que coisa horrorosa aquela! Protegia o pé, mas também ajudava a lacear a nadadeira. Não gostei da solução, mas funcionava! Difícil foi fazer a professora parar de rir...
Os dias iam passando e a metragem se acumulando. Ao longo de todas essas horas, um pensamento me ocorreu - afinal de contas, nadador pensa no quê durante todas essas horas de treino? - que uma pequena interferência, se não resolvida, pode gerar grandes problemas pela regularidade e frequência que ela ocorre. Assim ocorre no casamento - se algumas pequenas coisas não forem resolvidas, aquilo fica atritando, atritando até assumir grandes proporções e consequências impensáveis. Filosofei demais, não é?
Acho que isso é assunto para um terapeuta de casais.
Mas eu não vou a nenhuma terapia!
Então é melhor deixar pra lá e voltar a nadar - quem sabe outro dia me aparece uma inspiração menos filosófica e mais pragmática!
Numa situação dessas, o que fazer? Bem, eu usei um curativo no pé, que já estava em carne viva. Depois de uns 500 metros, o curativo soltou - é claro que iria soltar, né pedro-bó! A coisa estava pegando. Como é possível que uma interferência tão pequena pudesse causar tamanho transtorno?
A segunda opção - emergencial e com os instrumentos de que dispunha - foi usar o mesmo curativo anexado desta vez à nadadeira. Até que durou bem mais e funcionou pelo resto do dia. Mas não passou disso.
No dia seguinte fui nadar de meia - que coisa horrorosa aquela! Protegia o pé, mas também ajudava a lacear a nadadeira. Não gostei da solução, mas funcionava! Difícil foi fazer a professora parar de rir...
Os dias iam passando e a metragem se acumulando. Ao longo de todas essas horas, um pensamento me ocorreu - afinal de contas, nadador pensa no quê durante todas essas horas de treino? - que uma pequena interferência, se não resolvida, pode gerar grandes problemas pela regularidade e frequência que ela ocorre. Assim ocorre no casamento - se algumas pequenas coisas não forem resolvidas, aquilo fica atritando, atritando até assumir grandes proporções e consequências impensáveis. Filosofei demais, não é?
Acho que isso é assunto para um terapeuta de casais.
Mas eu não vou a nenhuma terapia!
Então é melhor deixar pra lá e voltar a nadar - quem sabe outro dia me aparece uma inspiração menos filosófica e mais pragmática!
Todo começo é difícil
Imaginem a situação: eu estava a menos de 3 meses daquela que seria uma das mais duras travessias de que já participei e estava me recuperando de uma sinusite que me deixou uns 3 meses fora d'água. Comecei a nadar feito um leão. Bom, leões não nadam, né? Quem sabe se eu dissesse "como um leão marinho" - ficaria melhor? Talvez a analogia fosse mais válida, não só pelo meio aquático deste último como por suas notáveis características adiposas das quais compartilhava com fartura.
Sair da imobilidade para um treino de volume não é tarefa simples. Eu rampei muito rapidamente - em questão de duas a três semanas já me arriscava a fazer alguns (poucos) treinos perto dos 5 ou 6 Km diários. Sem muito ritmo e com tempos ainda muito longe do desejado. Não precisa nem dizer que o ombro não aguentou. Meu ombro esquerdo já é conhecido por ser mais susceptível aos esforços repetitivos da natação. Mas a receita para a correção também já era-me conhecida: exercícios de rotação do manguito com o elástico, mudança de lado na cama para não apoiar o ombro dolorido, nimesulida e o principal e mais difícil de fazer: mudança do estilo.
A mudança do estilo demanda do atleta conhecer suas limitações para buscar contorná-las. No meu caso, toda vez que rodava o braço esquerdo fora d'água ele fazia um "crock". Era desanimador, mas era verdade. Acabei por estudar algumas variantes do estilo crawl que me permitiram melhorar a posição - abrindo mais a braçada e rotacionando mais o corpo. Mas isso exigiu mais de um mês de experimentação e observação até conseguir se acertar.
Palmar nunca mais. Usei muito da nadadeira para aliviar a demanda dos braços. Mas há contraindicações, como demonstrarei no próximo blog.
Em resumo, se fosse moleza, era só sentar no pudim...
Sair da imobilidade para um treino de volume não é tarefa simples. Eu rampei muito rapidamente - em questão de duas a três semanas já me arriscava a fazer alguns (poucos) treinos perto dos 5 ou 6 Km diários. Sem muito ritmo e com tempos ainda muito longe do desejado. Não precisa nem dizer que o ombro não aguentou. Meu ombro esquerdo já é conhecido por ser mais susceptível aos esforços repetitivos da natação. Mas a receita para a correção também já era-me conhecida: exercícios de rotação do manguito com o elástico, mudança de lado na cama para não apoiar o ombro dolorido, nimesulida e o principal e mais difícil de fazer: mudança do estilo.
A mudança do estilo demanda do atleta conhecer suas limitações para buscar contorná-las. No meu caso, toda vez que rodava o braço esquerdo fora d'água ele fazia um "crock". Era desanimador, mas era verdade. Acabei por estudar algumas variantes do estilo crawl que me permitiram melhorar a posição - abrindo mais a braçada e rotacionando mais o corpo. Mas isso exigiu mais de um mês de experimentação e observação até conseguir se acertar.
Palmar nunca mais. Usei muito da nadadeira para aliviar a demanda dos braços. Mas há contraindicações, como demonstrarei no próximo blog.
Em resumo, se fosse moleza, era só sentar no pudim...
quinta-feira, 11 de agosto de 2011
Tentando formar uma equipe
Uma vez definido o grande objetivo, abrimos espaço para mais alguns colegas de travessias. A escolha foi rápida e extremamente informal. O Foschini chamou o Alessandro, de Itabirito/MG e, logo após, o Fábio Dias, do Rio. Este último chamou o Tiago Sato, de Brasília. A turma foi se entusiasmando e chamando cada vez mais gente até que nós propusemos: "Para, para, que não vai ter infraestrutura pra todo mundo!" Afinal, ao se colocar muita gente, os barcos que mantêm a segurança da prova também se multiplicam, os cuidados idem, as preocupações idem, as dificuldades de se obter apoio e cobertura das prefeituras idem, do Corpo de Bombeiros idem e por aí vai.
Paramos nestes cinco. Afinal, como diz o ditado: um é pouco, cinco é bom, seis é demais.
Atenção mulherada! Os quatro amigos que irão enfrentar este desafio junto comigo - mostrados abaixo - não são galãs da Rede Globo - eram os únicos disponíveis, então não reclamem, OK? Hahahahaha
São eles: o Foschini, Alessandro, Fábio e Tiago.
Boa sorte pra eles na Travessia, que eu vou junto!
Paramos nestes cinco. Afinal, como diz o ditado: um é pouco, cinco é bom, seis é demais.
Atenção mulherada! Os quatro amigos que irão enfrentar este desafio junto comigo - mostrados abaixo - não são galãs da Rede Globo - eram os únicos disponíveis, então não reclamem, OK? Hahahahaha
São eles: o Foschini, Alessandro, Fábio e Tiago.
Boa sorte pra eles na Travessia, que eu vou junto!
Como tudo começou...
Num belo dia, recebi um email do Foschini, amigo de maratonas aquáticas de longa data. Já participamos de muitas provas 14 Bis juntos. Ele me convidava para participar de uma travessia a nado descendo o Rio São Francisco - dizia que estava tudo meio encaminhado e que seria uma grande experiência. Quando ele falou em 170 Km, meus olhos brilharam - por duas razões. Em primeiro lugar, por se tratar de uma cifra considerável - não se nada essa distância toda num esforço isolado. Segundo, por que eu estava absolutamente parado, sem nadar havia vários meses e com dificuldades de conseguir tempo livre para tal.
Não podia ser melhor. Imediatamente a mente começou a trabalhar em prol do projeto. o que viria pela frente, eu não poderia dizer ao certo. Só sabia que não seria uma tarefa fácil e que, ao final do projeto, eu estaria transformado. O Percival que estava para começar aquele projeto não seria o mesmo que iria terminá-lo - há um processo de transformação em projetos deste porte que só quem já experimentou é capaz de descrever.
Embarquei de corpo e alma. Vamos ver se o corpo aguenta, mas a alma já está nas alturas! Sigam comigo - e com meus companheiros de natação - alguns dos passos desta aventura.
Não podia ser melhor. Imediatamente a mente começou a trabalhar em prol do projeto. o que viria pela frente, eu não poderia dizer ao certo. Só sabia que não seria uma tarefa fácil e que, ao final do projeto, eu estaria transformado. O Percival que estava para começar aquele projeto não seria o mesmo que iria terminá-lo - há um processo de transformação em projetos deste porte que só quem já experimentou é capaz de descrever.
Embarquei de corpo e alma. Vamos ver se o corpo aguenta, mas a alma já está nas alturas! Sigam comigo - e com meus companheiros de natação - alguns dos passos desta aventura.
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