As provas natatórias em contato com a natureza apresentam elementos muito particulares, incomuns em provas de piscina. Só para citar alguns deles, listo aqui a imprevisibilidade das condições da natureza, a capacidade de navegação do nadador, os acidentes de percurso, dentre outros.
Uma discussão que tem permeado nosso grupo diz respeito a qual distância será nadada
DE FATO entre as cidades de Piranhas e Penedo. A primeira aproximação vem através de medições feitas no Google Maps. Basta abrir a página, localizar as cidades, ampliar o zoom ao máximo entre duas cidades vizinhas constantes do trajeto e utilizar a ferramenta para medição do comprimento de um caminho, supondo os trajetos que o nadador irá percorrer. Isso implica em levar em consideração as curvas do rio, ilhas, pedras, remansos, etc. e prover os meios de contorná-los quando se traça o caminho. Assim o fiz para cada um dos quatro trechos que percorreremos. Esta distância resultou em aproximadamente 170 Km.
Mas o Google ainda pode apresentar desvios - medições de distâncias feitas por navegadores levam em conta as cartas náuticas, que são muito mais precisas neste quesito.
No Canal da Mancha, a distância a ser percorrida é a menor reta entre os dois pontos: o de partida, que é bem conhecido (usualmente Shakespeare Beach, ao lado do porto de Dover) e o de chegada, que nem sempre é previsível - afinal, pode-se chegar mais ao sul ou mais ao norte de Cap-Gris-Nez. Em condições normais, todo o restante - o caminho em forma de senóide que o nadador percorre, onde ele é levado e trazido pela correnteza - não constituem trabalho no sentido básico em que ele é definido pela física. Logo, não devem contar como distância percorrida.
Acontece com muita frequência que as "condições normais" acima mencionadas nem sempre estão presentes. Querem um exemplo? Na recente travessia do Canal da Mancha em revezamento feminino pela equipe brasileira ainda neste ano de 2011, por uma questão de navegação, uma das atletas (a Priscila Santos) teve que nadar contra a correnteza a fim de corrigir o trajeto da travessia. Pelo que ouvi, ela nadou uma hora sem sair do lugar. Isto quer dizer que talvez o que mais conte numa grande travessia não seja a distância, mas o esforço do nadador. Como ainda não inventaram um esforçômetro, ficamos com a distância mesmo.
Na verdade, os esforços, os perigos, as belezas e as realizações pela conquista só podem ser capturados através dos relatos que se contam e se ouvem contar sobre a prova. Esta parcela é aquela que não tem preço e é digna de uma propaganda do Mastercard (se me permitem uma chula comparação capitalista).
Esta parte da história eu deixo para contar para vocês em breve.