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domingo, 21 de outubro de 2012

Cap.5 - O início da superação

Todo projeto tem um início, um meio e um fim. Estávamos iniciando nossa viagem de Maceió para Piranhas. Acordamos cedo naquela manhã de segunda-feira. Comemos rapidamente algo só para enganar a fome e o táxi estava nos esperando.
A logística havia sido preparada de última hora - conforme já explicado - e o acertado foi que o Foschini sairia com os bombeiros cedo, ainda de madrugada e os demais - três nadadores e um acompanhante - iríamos de táxi até Piranhas.
O táxi era um Siena e foi possível realizar a viagem com alguma bagagem leve no porta-malas - o pesado estava sendo transportado pelos bombeiros - e cinco marmanjos dentro.
No meio do caminho foi possível acompanhar como a região vai se tornando cada vez mais árida e, por consequência, cada vez mais pobre. A qualidade das estradas não era ruim, mas tratava-se de vias de pistas simples, onde o perigo era iminente.
Mas como todo desafio tem sua parte difícil, esta viagem não podia ser diferente. O taxista colocava um pagode pra tocar que não dava pra aguentar. Posso dizer que foi realmente muito extenuante chegar, quase um calvário! De vez em nunca ele alterava a programação e colocava uma musiquinha Gospel - só para variar! Puxa, aquilo foi realmente difícil!
- O que é que a gente não faz para buscar os nossos sonhos? - pensava com meus botões, enquanto a musiquinha não parava de tocar...
Ao chegar em Piranhas, fizemos uma vaquinha para pagar o taxista e tomamos o cuidado de pegar o recibo para reembolso da viagem pela prefeitura de Piranhas, o que nunca aconteceu. Ficamos no preju, mas vai fazer o quê? Este é o Brasil que vivemos!
O taxista ficou tão impressionado com nossa história que fez questão de tirar uma foto junto ao grupo ali na cidade. Ele dizia que, quando ficássemos famosos e fôssemos vistos na televisão, ele contaria aos amigos que nos conheceu e ainda participou do desafio junto conosco. Eu só esqueci de pedir-lhe um desconto pela insalubridade acústica de seu táxi. Mas fizemos uma boa amizade!
Nossa intenção era ficar na pousada de propriedade de Dona Dione (veja sua simpatia na foto abaixo) à beira do rio, no local exato de nossa partida, mas a Prefeitura de Piranhas nos acomodou num alojamento da CHESF, que ficava a alguns quilômetros do local. Felizmente ela disponibilizou uma van para traslados locais e fomos muito bem atendidos neste sentido.

 
A viagem foi extenuante e meus colegas de viagem queriam dormir para estarem descansados no dia seguinte. Eu queria percorrer os primeiros quilômetros novamente nadando, para sentir a influência dos redemoinhos na região.
Eu conversava com os técnicos da CHESF e eles já haviam me adiantado que houvera uma pane num subsistema da Região Sudeste e que a Usina de Xingó estava trabalhando acima de seu volume esperado para compensar a falta.  De fato, quando chegamos à cidade, percebi que o nível do Rio São Francisco estava bem mais alto - mais de um metro acima do que havíamos testemunhado há dois meses.
Acompanhem o raciocínio, com a ajuda da foto abaixo:


A foto acima foi tirada dois meses antes do início de nossa Travessia. Na véspera de nossa largada, a pedra à esquerda (a mais alta) mostrada na foto acima estava quase totalmente coberta pela água, sinal de que o nível do rio havia subido consideravelmente.
Eu queria entender de que forma a maior vazão influenciaria nos redemoinhos - pensava noite e dia na segurança da prova. Passar por aquelas duas primeiras regiões de redemoinhos - chamadas de Caçamba e Mateus - era uma condição muito importante para garantir esta segurança. Por já haver nadado ali em regime de reconhecimento da região dois meses antes, eu me sentia um pouco responsável por orientar os demais componentes do grupo que ainda não haviam tido a mesma oportunidade.
Quando eu comentava:
- Pessoal, a vazão aumentou dos 1700m3/seg para 2400m3/seg, devido à maior geração de energia por Xingó"
estes números não faziam muita diferença para o grupo. O importante no momento era saber como deveríamos nos comportar na manhã do dia seguinte - e isso nem eu mesmo sabia ao certo.
Minha cabeça trabalhava com duas hipóteses que deveriam ser testadas. Eu só poderia ter certeza se as testasse, nadando por ali mais uma vez antes de nossa largada. Perguntava-me o que ocorreria com os redemoinhos com a vazão e o nível aumentados. Eles aumentariam (por que a vazão é maior, logo a força do rio também é) ou diminuiriam (pois o nível do rio ficou mais alto e houve menor estrangulamento da calha do rio e, consequentemente, menos corredeiras e menos turbulências)?
O pessoal técnico da CHESF não sabia me responder ao certo. Só me diziam para tomar cuidado, pois havia trechos medidos na região com mais de cinquenta metros de profundidade - alguns arriscavam até noventa metros!
A profundidade não é um fator determinante para nadadores - afinal, ficamos apenas na superfície da água. O que realmente nos impressionava naquele rio eram as formações subaquáticas - tratava-se de um enorme e profundo desfiladeiro, onde o fundo irregular rapidamente surgia das profundezas para marcar sua presença na superfície como se fossem inocentes pedras, mas que representam enormes picos que distrocem os retilíneos caminhos das águas (conhecidos em Mecânica dos Fluidos por fluxos laminares) e os transformam em corredeiras rápidas (devido ao abrupo estrangulamento) ou grandes redemoinhos, quando seu movimento se torna circular próximo à superfície.
Para aumentar ainda mais o nível de ansiedade, eu sabia que Matthew Webb, o primeiro nadador que cruzou o Canal da Mancha a nado sem a ajuda de equipamentos ou roupas especiais, havia perdido a vida tentando vencer um enorme redemoinho no Rio Niagara, logo após as cataratas de mesmo nome. Qual das duas hipóteses se mostrou verdadeira? Esta resposta eu deixo para o meu próximo post.
Como diziam naqueles seriados antigos de TV: "Não percam!"

2 comentários:

  1. Percival...qual a distância de Maceió até Piranhas?

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  2. Lucia, são cerca de 270 Km e a viagem durou cerca de quatro horas, aproximadamente. Eu não havia me preparado para tudo isso de pagode e Gospel. Rsrsrsrs

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