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quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Cap.7 - O grande dia. Dia de São Francisco!

Era 4 de outubro de 2011. Dia do padroeiro do Rio e momento mais que apropriado para comemorarmos, na região, os 510 anos do descobrimento do Rio São Francisco. As cidades ribeirinhas celebram intensamente a data, pois o Rio lhes traz boa parte de suas esperanças: na pesca, no abastecimento de água ou na paisagem deslumbrante que se forma.
Agendamos para largar às sete da manhã. Um pequeno grupo de - cerca de três - caiaqueiros nos acompanharia em nosso primeiro dia. Seu desejo - bem como o nosso - era de largar antes das seis da manhã, mas as festividades na cidade e a presença da população e os discursos das autoridades políticas nos obrigaram a postergar ligeiramente o horário de largada.
Isto representaria um esforço maior, pois sabíamos que encontraríamos os maretões - grandes ondas contrárias ao nadador que se formam pela ação dos ventos fortes da região - mas estávamos lá para o que desse e viesse.
Ao chegar à beira do rio, percebi que seu nível estava sensivelmente mais baixo que no dia anterior - algo plenamente previsível devido ao fato de Xingó reduzir sua produção durante a madrugada - horário de menor consumo de energia. Isto queria dizer uma coisa: os redemoinhos que encontrei no dia anterior no final da tarde com o rio cheio estariam mais fortes naquela manhã. Avisei meus colegas de nado a  respeito e pedi-lhes muita atenção na região.

Os quatro nadadores e as autoridades de Piranhas que nos ajudaram em nossos esforços no dia da largada.

Uma hora antes da largada, um senhor da região veio nos procurar para pedir permissão para que seu sobrinho nadasse uma parte do trajeto conosco. Aquele tinha sido um sonho em sua vida - poder nadar uma grande extensão do rio - e ele gostaria de tentar.
Obviamente ficamos muito receosos, mas aceitamos sua participação desde que ele consentisse com nossas recomendações de segurança: nadar sempre junto ao barco dos Bombeiros e parar, quando sentisse que estava cansado. Não podíamos correr riscos. Rodrigo, como era seu nome, tinha cerca de 18 anos, um perfil bem atarracado, similar ao de maratonistas aquáticos e foi rapidamente apelidado de Tarzan do Cangaço. Conhecia muito bem o rio e deu grandes contribuições ao grupo.
Largamos por volta das 7:30h. A Marinha estava presente, bem como o Corpo de Bombeiros do Estado de Alagoas além do barco de apoio pilotado pelo Carlinhos. A estratégia ficou combinada entre todos os participantes da seguinte maneira:
1. começaríamos num ritmo maneiro de modo a passar por Caçamba e Mateus com segurança
2. após esta região, o Foschini e eu poderíamos nadar um pouco à frente enquanto os demais viriam logo atrás, num ritmo possivelmente mais lento
3. não era objetivo de ninguém chegar na frente de ninguém. Nosso objetivo era muito mais simples: chegar a Pão de Açúcar, a próxima cidade em nosso mapa, distante cerca de 45 Km rio abaixo.

O primeiro mergulho: o início de uma grande aventura!

Percebam que o Tarzan do Cangaço não usava óculos nem mesmo touca de natação. Ele não sabia o que era maltodextrina, não passou vaselina nas articulações e saiu assim, na raça, de sua cidade natal. Óbvio que, ao longo da travessia, nós o fomos convertendo aos princípios modernos da natação. Eu costumo dizer que "nós o estragamos" um pouco. Mas é fato que, poucas horas após a largada, suas axilas estavam assando, ele estava morrendo de fome e o sol já o estava incomodando um pouco - muito menos que a todos nós, mas ele também sentia a forte insolação da região.

2 comentários:

  1. Percival...como era a técnica de nado do Rodrigo? tinha ritmo bom?

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  2. Ele nadava com bom estilo. Tinha muita força e conseguiu manter um bom ritmo ao longo da prova.
    Ah, que saudades dos meus 18 anos!!! Rsrs

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