Tanto no dia de nossa largada de Piranhas como no segundo dia de nossa travessia, saindo de Pão de Açúcar, conseguimos receber alguns pacotes de gelo das prefeituras locais para manutenção de nossa alimentação numa temperatura agradável no meio daquele calor infernal. Mas obtê-lo demandava um esforço de convencimento nada desprezível junto às prefeituras. Voltamos à questão do MODELO de organização, que já foi tratado anteriormente e dispensa maiores comentários.
O gelo havia sido motivo de discussão forte como item de planejamento de nossos suprimentos e não houve maneira de chegarmos ao consenso. Quando eu perguntava pro Foschini se as prefeituras aceitariam nos fornecer gelo, ele respondia o seu famoso:
- Na hora a gente vê.
Talvez eu estivesse preocupado demais com o fato, mas sem gelo, o sucesso desta travessia poderia ser seriamente comprometido, por impossibilitar a ingestão de malto numa temperatura adequada. Num sentido ele tinha razão: algumas das cidades no trajeto dependiam da pesca - logo, havia gelo em abundância. Meu pensamento era um pouco diferente: será que aquele gelo abundante estaria disponível para nossas largadas NA HORA CERTA? O plano era largar de Pão de Açúcar às três e meia da manhã - ele estaria lá?
As correntes de pensamento eram duas:
Eu nado provas longas sempre com o apoio de matodextrina - acondicionada em baixa temperatura, para que fique mais agradável de beber. Fui orientado assim por meu nutricionista quando de minha travessia do Canal da Mancha e entendo que trata-se do melhor e mais adequado complemento alimentar (não é o único, obviamente) para provas longas (acredito que não somente eu, mas todo o mundo esportivo de alta performance pensa desta maneira). Pode ser acompanhada por outros quitutes, mas com moderação. O Fábio recebera recomendações similares de sua nutricionista - a base da alimentação também seria a maltodextrina - e incluía requintes de sofisticação no preparo, adicionando complementos diversos e bem planejados às suas garrafinhas. Ele seguia à risca todas as recomendações e gastava um bom tempo em seu preparo - normalmente junto comigo durante a noite. O Alessandro seguia basicamente a mesma linha da malto, sem muita sofisticação.
Já o Foschini tinha sua opinião a respeito da malto. Lembro-me de sua mensagem de otimismo num email endereçado a mim dias antes de nossa prova:
- Espero que essa porra de maltodextrina embrulhe direitinho o seu estômago. Aquilo é uma gororoba... (vou parar os elogios por aqui).
Sua linha de alimentação baseava-se em suspiros feitos pela (Santa) Mara, pêssegos em calda, alguns doces ou biscoitos diversos e, muito ocasionalmente aqui ou acolá - um pouco de malto. Logo, para ele não havia tanta necessidade de gelo.
Um nadador mal alimentado pode incorrer em uma de três situações, quando submetido a esforços prolongados como seria o nosso caso: 1- ele perde força e seu estilo não rende ou 2- ele começa a sentir muito frio devido ao fato de seu corpo não gerar calor suficiente a ponto de sair da água ou 3- ambas as descrições anteriores. Some-se a isso o fato de não conseguirmos dormir o suficiente e a confusão está armada.
Em cada pernoite nas cidades, minha preocupação com a disponibilidade do gelo era constante. Tivemos o gelo que precisávamos em 3 das 4 cidades de pernoite. A cidade que não conseguiu a quantidade solicitada nos arrumou uns punhados de última hora que foram minimamente suficientes para aquele dia - por sorte, o menor trajeto dos quatro dias.
Paradoxalmente, posso afirmar: "Dado o calor reinante na região, sem gelo, aquilo seria uma fria..."
Cinco destemidos nadadores encaram o desafio de nadar 170 km no Rio São Francisco, entre os estados de Alagoas e Sergipe. Sem se deixar esmorecer pelos fortes redemoinhos e pelas altas ondas provocadas pelo vento terral, eles têm boas histórias para contar. Em meio a um povo humilde e hospitaleiro, marcado por uma forte diferença social eles cumprem seu objetivo: evidenciar a necessidade de preservação do rio e de seu ecossistema. Embarque nesta aventura!
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Nossa Edmundo...tudo isso dá um nó na cabeça!
ResponderExcluirO pessoal que treina comigo, a maioria consome malto. Eu de minha parte, até há uns dois meses atrás tbm consumia malto por indicação de um nutricionista.
Troquei o profissional de nutrição que cortou o malto. Tomo whey a noite antes de dormir e durante os treinos como banana passa ou uva.
Nas travessias longas consumo saches de carbo.
Ouvi falar de um atleta que consome só beterrabas.
Tem alguma dica pra 14 BIS ?
Uma amiga minha levou algodão doce na travessia. Disse que ajuda a desinchar a língua...rsrsr