Ao longo dos quase 210 Km do baixo São Francisco, só conhecemos duas pontes entre Sergipe e Alagoas: a primeira delas fica à montante da cidade de Piranhas e nós, nadadores, não tivemos o "prazer" de passar por debaixo da mesma nadando. A ponte era esta:
Veja um pequeno vídeo de como se comporta o Rio São Francisco nessa ponte, entre Piranhas (AL) e Canindé de São Francisco (SE).
Primeiramente, à montante da ponte:
E agora, à sua jusante:
Como se vê, a trubulência é grande nessa região e não se recomenda a ninguém tentar nadá-la sem conhecer muito bem a real conformação do leito do rio, as vazões de Xingó (uma vez que ela fica a poucas centenas de metros à jusante da barragem), o nível das águas e outras variáveis. Cada perturbação que se vê na superfície indica que existe alguma estrutura rochosa sob a água que a provoca. Percebe-se que em alguns pontos, a água faz um movimento rotacional e volta a subir o rio, formando os famigerados e frequentemente mencionados redemoinhos. Certamente é uma região muito mais ameaçadora do que as temidas Caçamba e Mateus descritas em nosso primeiro dia de travessia.
Enfatizo que nossa travessia não incluía passar por baixo desta ponte e, de fato, não o fizemos.
A segunda ponte, próximo da qual estávamos lotados ao final do terceiro dia, apresentava uma conformação do Rio São Francisco bem mais comportada, com poucas corredeiras e perturbações que poderiam preocupar um nadador consciente em busca de segurança absoluta, nossa grande prioridade. Nossa pousada ficava a menos de uma centena de metros desta segunda ponte:
Ao final daquela tarde já estávamos liberados para nos programarmos para o dia seguinte. Não sem antes fazermos uma nova reunião de planejamento com nossos inseparáveis ccompanheiros da Marinha e do Corpo de Bombeiros de Alagoas. As perguntas que não queriam calar eram: por que nós combinamos uma coisa no dia anterior e fazíamos outra? O tema era recorrente e dizia respeito naquele dia às atitudes do Foschini, que deixou de nadar com o Alessandro, distanciou-se desnecessariamente do grupo, não procurou mais a alimentação provida pelos barcos de apoio nos quilômetros finais e entrou na região portuária de Porto Real sozinho, correndo perigo de ser atingido por alguma embarcação local. Eu não tinha a resposta a todas essas perguntas, pois não diziam respeito a mim. Só podia responder por minha atitude de acompanhar o Alessandro quando percebi que ele fora deixado para trás pelo Foschini.
No dia seguinte, perguntei ao Foschini o que tinha acontecido e comentei com ele das chamadas que eu havia levado, sem ter direta responsabilidade por tudo aquilo. Entre uma história aqui e outro depoimento ali, pude juntar os fatos e percebi que a rivalidade estabelecida entre o Foschini e o Fabio naquela fatídica noite em Traipu, onde, entre ofensas pessoais, um desafiou o outro e eles quase saíram no braço, era a real razão da corrida desenfreada de ambos no terceiro dia, que os levou a nadar forte e até mesmo recusar a alimentação nos dez ou doze quilômetros finais. Um crianção de 62 anos e outro com seus trinta e poucos competiam entre si para provar quem era o melhor. De um lado, aquela situação fez-me rir tamanha a sua infantilidade - de outro, deixou-me deveras preocupado pois a segurança da prova fora deixada de lado - e o pior, por seu principal organizador! Isso foi pior que o "Na hora a gente vê."
Ainda na pousada propriense, passamos o Fabio e eu mais alguns momentos emocionantes na cozinha preparando nossas maltos em meio a um ambiente que não era nenhum primor de limpeza e que, por essa razão, nos proporcionava a companhia de insetos repugnantes semelhantes aos já descritos em Pão de Açúcar. Aquela experiência me deixou extremamente comedido e seletivo no café da manhã do dia seguinte - talvez com muita "vitamina B", se é que estou sendo claro...
Naquela mesma noite tive a chance de falar com o meu irmão Paulo, que conseguiu me encontrar no celular. Algumas das cidades por onde havíamos passado não tinham sinal adequado e nossa comunicação ficou bastante comprometida. Passei para ele uma rápida atualização dos fatos, que foram repassados ao restante da família. É sempre bom sentir o apoio da família!
O grande sucesso natatório até aquela etapa era muito mais importante do que os eventuais percalços de nossa aventura e estávamos ávidos pelo quarto e último dia.
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