Alguns fatos curiosos aconteceram após a nossa chegada em Traipu que são dignos de menção. Gostaria de aproveitar para narrar este episódio, fato inédito ao longo de meus 49 anos (na data da travessia):
Ao chegar e sair da água no meio da multidão - gente muito simples e humilde - eu caminhava apertado no meio deles cumprimentando a todos ainda sem saber direito para onde estavam me levando. Outros me paravam para tirar fotos. Era muita gente por metro quadrado, acreditem!
Foi quando um senhor muito simples se achegou de mim, estendeu a mão em minha direção como que para me cumprimentar. Como eu estava retribuindo o cumprimento a todos, assim o fiz também para aquele senhor de pele ressecada pelo sol, moreno e já de cabelos brancos. Ele apertou firme a minha mão e, em seguida colocou na minha mão uma nota de cem reais bem amassada - daquelas verdinhas - e disse que era para mim.
Obviamente eu não entendi a razão e perguntei-lhe do que se tratava. Ele respondeu, numa linguagem muito mais simples e regional do que eu sou capaz de reproduzir aqui, algo como:
- Isso é um presente para você. Um reconhecimento pelo que fez. Pode ficar.
Aquilo me pegou de surpresa, pois a pobreza da região é muito grande - Traipu é uma das cidades mais pobres do estado de Alagoas, senão a mais pobre - e eu imaginei o que cem reais poderia significar para aquele senhor. E ele me oferecia de coração, eu podia sentir isso em sua expressão.
Gentilmente (tão gentil quanto se pode ser após 12 horas apanhando da água) eu agradeci e lhe devolvi o dinheiro e disse-lhe que o usasse para outras benfeitorias e que eu não poderia aceitá-lo. E segui andando.
Aquela imagem foi instantânea. Acredito que todo esse quadro se passou em míseros segundos, mas marcaram em profundidade a minha alma.
Prova de que há nobres valores humanos por todos os lugares - nós é que nem sempre conseguimos percebê-los.
Cinco destemidos nadadores encaram o desafio de nadar 170 km no Rio São Francisco, entre os estados de Alagoas e Sergipe. Sem se deixar esmorecer pelos fortes redemoinhos e pelas altas ondas provocadas pelo vento terral, eles têm boas histórias para contar. Em meio a um povo humilde e hospitaleiro, marcado por uma forte diferença social eles cumprem seu objetivo: evidenciar a necessidade de preservação do rio e de seu ecossistema. Embarque nesta aventura!
Que coisa bacana Percival. Mesmo que se fosse uma nota de 1 real, teria marcado pelo gesto simples e sincero.
ResponderExcluirVocê não faz ideia da simplicidade daquela gente. Foi mesmo impressionante! São as boas lições que a natação nos proporciona - aqui e acolá.
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