Conversamos com as autoridades e as personalidades da região. Os amigos locais se aproximavam e nos eram apresentados e pudemos descansar um pouco. Estávamos no primeiro andar, em uma sacada com vista para o rio e para a população que se aglomerava lá embaixo. Num sistema de som previamente armado, se iniciaram os discursos e recebemos algumas palavras de incentivo muito valorosas de nossos anfitriões.
O Foschini ficou emocionado com o número de crianças que estavam ali nos assistindo. Eu fiquei emocionado com as coxinhas de frango, os salgadinhos de queijo e os croquetes de carne que nos serviram! Éramos convidados especiais e fomos tratados como tais. Não me esqueço dos inúmeros copos de refrigerante que tomei - com muito gás, para esquecer da água do rio, que eu não queria nem ver de perto. (Graças ao esporte, eu não bebo cerveja até hoje!)
Muitos discursos de todos os nossos amigos. O evento era um momento de festividade - algo inimaginável para aquela cidadezinha pacata do interior.
É nóis na fita, digo, na festa!
Nossos anfitriões nos levaram até as pousadas onde tomaríamos nosso merecido banho, jantaríamos, arrumaríamos a infraestrutura para o próximo dia e dormiríamos o sono dos deuses. Mal sabíamos que outros momentos inesquecíveis nos aguardariam...
Em meu quarto ficaram comigo o Fabio e o Tarzan. No andar de baixo estavam nossos amigos: o pessoal da Marinha e os Bombeiros. O Foschini e o Alessandro ficaram numa pousada logo do outro lado da rua.
Era uma muvuca geral na pousada - muita gente chegando e muita gente preocupada em nos acolher. Nesses vai-e-vens no prédio, deparei-me com nossos amigos do suporte à prova, que me chamaram para conversar. Eles tocaram num tema muito apropriado e sensível.
- Percival, precisamos de sua ajuda aqui. O que a gente tem combinado não tem funcionado a contento. Nós temos que mudar o esquema, pois a gente combina uma coisa e acontece outra! Você viu o que aconteceu hoje? Primeiro, ele diz que vai sair às três e meia e o barco chega às cinco. Depois, sem avisar, você precisa nadar mais forte - até aí entendemos - e o Foschini deixa um dos barcos sem combustível? Ontem ele devia nadar prioritariamente ao seu lado e o vemos acompanhando os outros três nadadores ou sozinho boa parte da prova. Nós não entendemos nada. Como podemos corrigir isso?
Tentei explicar o que pude - na verdade, eu não podia explicar por que também não entendi esses enormes desencontros de organização e de comunicação que nos prejudicaram a todos. Mas sugeri que fizéssemos uma reunião pré-operacional após o jantar. Estariam presentes os nadadores, a Marinha, os Bombeiros e o pessoal local que nos acompanharia no dia seguinte.
Assim o fizemos. Tomamos um bom banho, arrumamos nossas camas, cuidamos de nossos pertences, tivemos um jantar bastante animado com muitas pessoas da região nos acompanhando. Chegou a hora de nossa reunião. Atravessei a rua e fui chamar o Foschini para participar. Sentamo-nos à mesa três nadadores (Foschini, o Fábio e eu), dois Bombeiros e dois oficiais da Marinha, além de algumas pessoas que nos acompanhariam no dia seguinte - a Marcilene, que era enfermeira em Traipu e alguns rapazes conhecedores do rio.
A reunião iniciou-se com a discussão dos desencontros organizacionais anteriores - educadamente colocado pelos Bombeiros. Eu não tinha o que falar e deixei o Foschini tentar explicar. Mas o clima "democrático" que se estabeleceu naquela reunião, onde todos podiam se manifestar acabou caminhando para uma séria discussão entre o Foschini e o Fábio. Este último colocou inúmeros pontos de descontentamento na mesa, desde a proposta fracassada e indecente de última hora de fazermos um revezamento, passando pela irresponsabilidade de deixá-los sem combustível, até a chegada "de mentirinha" ao final do dia daqueles que não nadaram a distância toda. No fundo, eu sabia que o Fabio tinha uma certa razão, mas o formato da conversa infelizmente caminhou para "o lado negro da força". Começaram entre os dois os insultos e desafios do tipo: "eu nado melhor que você", "você vai ver amanhã", etc. - para não citar as demais trocas de gentilezas e minimizar aqui o tamanho do escândalo. Eu não sabia onde me esconder - tive muita vergonha de tudo aquilo. Tentava interromper a discussão, botar panos quentes e estava preocupado que os dois se atracassem, o que não estava longe de acontecer. No final, o Foschini foi embora xingando e os que ficaram - entre mortos e feridos - combinariam os procedimentos para o próximo dia.
Mas como seria possível combinar quem nadaria com quem naquele clima Fabio-Foschini reinante? Deixamos essa decisão para o dia seguinte. Ainda assim, conseguimos uma boa coordenação dos presentes na reunião. Um ponto de grande avanço foi que teríamos um conhecedor do rio, gente da região, presente em cada um dos barcos para nos avisar sobre eventuais particularidades do trajeto. Coisas do tipo: "vai por aqui", "evite aquela pedra ali", "cuidado que ali é muito raso", etc. Os Bombeiros se sentiram mais suportados com isso. Também disporíamos de duas enfermeiras a bordo, para qualquer emergência.
Acertamos nossa largada para as seis e meia, já sabendo que poderia acontecer de atrasar um pouco e largarmos às sete. Não haveria problema, pois o dia seguinte seria o menor dos desafios: apenas 33 quilômetros.
Mas a confusão estava armada e as rixas afloradas naquela noite se refletiriam no dia seguinte.
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