Total de visualizações de página

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Cap.10 - A primeira noite, em Pão de Açúcar

Ao chegarmos em Pão de Açúcar, o pessoal que havia vindo por terra veio ajudar no transporte e guarda dos equipamentos. Estamos falando aqui dos Bombeiros e do pessoal da Marinha.
Os primeiros estavam divididos em dois grupos: um nos acompanhava em água e outro seguia de caminhonete por terra para, no final do dia, tirar o barco da água, colocá-lo na carreta e guardá-lo.
Nossos incansáveis - mas já cansados - amigos Bombeiros:
indispensáveis para o sucesso de nosso projeto.

Já a Marinha entrava de Jet Ski na água conosco, nos acompanhava pelos primeiros quilômetros e depois voltava à origem, tirava o jet-ski da água, colocava-o na carreta e ia de caminhonete até a próxima cidade. Pouco antes de chegarmos, eles entravam na água novamente e nos acompanhavam nos minutos finais de cada etapa. Eles não estavam equipados para nos acompanhar durante todo o trajeto - o jet-ski não tinha a autonomia necessária - e a proteção fornecida pelos bomeiros já seria o suficiente.

Nossos amigos da Marinha contribuíram - e muito - para o nosso sucesso!

A presença de ambas as entidades agregou uma visão diferenciada no decorrer da prova e nos assegurou um ambiente livre de imprevistos - mesmo que, para tal, eles tivessem que oferecer uma visão diferente daquela dos nadadores, sempre buscando garantir a nossa segurança.

Antes de nos retiramos das margens do rio - permanecemos ali um longo tempo até a chegada dos demais nadadores (cerca de 20 a 30 minutos) e até os equipamentos serem retirados d'água - testemunhei o Foschini fazendo os últimos arranjos com o pessoal da prefeitura para que o barco da cidade - que nos acompanharia no segundo dia - estivesse ali, naquele ponto, às cinco da manhã. De lá fomos transferidos em carros dos locais para uma pousada na cidade. Confesso que não me recordo o nome da pousada, nem de sua egrégia proprietária (vou chamá-la aqui de sra. X), que tão bem nos recebeu - festiva, alegre, contadora de piadas e um tanto "demasiadamente espontânea" em suas palavras também.
Eu fiquei num quarto logo na entrada do hotel, junto com o Fabio. O Foschini e o Alessandro subiram para o primeiro andar e lá se alojaram. No meio do caminho havia a cozinha, onde trabalhava com afinco a sra. X. Afinal, naquela noite, ela tinha que alimentar cerca de doze pessoas - onde algumas ali comiam bem.
Eu não sei como o Foschini é magro daquele jeito. Vocês têm que ver como aquele ser humano come! Acho que é por isso que a (Santa) Mara cozinha tão bem - ou seria o contrário? Não sei dizer ao certo. 
Na verdade, nenhum dos nadadores ali comia pouco. Já os bombeiros e os oficiais da Marinha pareciam absolutamente normais, para sorte da Sra. X.
Assim, jantamos tão logo a comida ficou pronta. Precisávamos dormir logo para o dia seguinte, que seria o mais difícil de todos. Na cozinha não havia lugar para todos sentarem. A Sra. X pôs as panelas, pratos e talheres na mesa e se retirou. Eu tentei sentar-me junto à mesa e, ao puxar a cadeira, seu assento caiu no chão - estava desparafusado - e as baratinhas que se escondiam em sua estrutura tubular deram o ar da graça e fugiram para debaixo da pia.
Enquanto todos comiam eu tentava persegui-las movendo os objetos sob a pia, somente para perceber que eu havia desalojado outras baratinhas de suas casas. Uma delas estava agora sobre a pia, outras sob a mesa e sob a pia também. Desisti. O melhor a fazer era comer (aaargh!) e logo sair dali.
Naquela hora eu lembrei do Niltão e pensei:
- Esse cara se livrou de uma boa aqui. Imagine se ele vem e trás a (santa) esposa junto - nossa, que tragédia teria sido!
Antes de subir para dormir, o Foschini, que havia se aconselhado com o então secretário de Traipu (a próxima cidade vizinha), resolveu mudar os planos e comunicou:
- Amanhã temos que sair às três e meia da manhã ou não vamos conseguir chegar em Traipu (a terceira cidade em nosso trajeto).
Nós, nadadores, ouvimos com muito pesar aquela notícia pois ela implicava em levantarmos às duas ou duas e meia da manhã e também teríamos de nos preparar para o nado noturno. Nadar à noite implica em preparar os sinalizadores químicos luminosos para que possamos prendê-los na touca/ nos óculos de natação para sermos rastreados com facilidade na escuridão.
Percebemos que nossos amigos Bombeiros e Marinha ouviram e não discutiram, mas acharam o horário de saída muito pouco apropriado, com certeza.
O Foschini e o Alessandro simplesmente sumiram de vista e foram dormir. Ficamos eu e o Fabio preparando a alimentação do dia seguinte. Aquilo dava um trabalho danado. Eu preparava maltodextrina em dois ou três sabores diferentes, acondicionava em garrafas e colocava no isopor/ mala  térmica que, pela manhã, iria receber o gelo. Já o Fabio tinha umas duzentas fórmulas diferentes que sua nutricionista lhe recomendara e que tinham de ser preparadas na noite anterior. Aquilo nos consumia mais de hora para ficar pronto. Pelo menos as baratas deram um tempo naquela hora!
Foi quando chegou o representante da prefeitura e nos chamou para uma homenagem na pracinha da cidade. Afinal, aquele ainda era o dia de São Francisco e a cidade iria aproveitar de nossa passagem para fazer um evento na pracinha central da cidade, chamar a população e prestar uma homenagem aos nadadores.
Uma homenagem naquele momento representava algumas horas a menos de sono. O que fazer?
O Foschini era o contato oficial com as prefeituras - afinal, ele era da região e havia contatado o pessoal da cidade pessoalmente. Fui chamá-lo para comparecer - ele nem mesmo se dignou a levantar da cama - disse que não podia ir, pois tinha que dormir.
Eu fiquei muito sem jeito de dizer não àquela população que nos acolheu - e resolvi ir até lá junto com o Fabio e o Tarzan do Cangaço. Os demais ficaram dormindo.
De fato, no coreto da pracinha ouvimos os discursos das autoridades presentes, foi-me dada a oportunidade de falar algumas breves palavras - o que fiz com muita comedição. Também nos foram oferecidas duas lembranças da cidade: uma pequena estátua de gesso com o símbolo da cidade - o Cristo Redentor sobre o Pão de Açúcar (mostrado no post anterior) - e uma pequena escultura em madeira, representando uma canoa chamada de Igaci que, pelo que nos contou o prefeito, era responsável por várias vitórias em competições locais.
Saindo de lá,  esperávamos ir dormir logo que possível. Mas, como em toda história  tem sempre um "mas", o prefeito da cidade - muito simpático e prestativo conosco - insistiu em seu discurso que fôssemos visitar o museu da cidade, organizado pelo nosso já amigo e secretário de Traipu. Novamente fiquei sem jeito de dizer não e, desta vez sozinho, fui acompanhar meu anfitrião Jackson (simpaticíssimo por sinal - vejam na foto abaixo) até seu museu, onde ele me contou várias histórias da região.

O Jackson, muito gentil, me apresentou o museu da cidade em Pão de Açúcar

Após essa breve visita, voltei ao hotel e lá encontrei o Fabio ainda preparando sua alimentação. Eu ainda tinha que encontrar uma maneira de manter o nadador sinalizado no escuro - isto é, com o sinalizador luminoso próximo à cabeça e bem visível. Para mim, a segurança vem em primeiro lugar. Eu pensei em usar alguns amarrilhos para amarrá-los, mas descobri que aquela região é tão desprovida dessas modernidades que eles desconheciam completamente o que era um amarrilho.
Então eu pedi um pão de forma - dali eu tiraria o amarrilho - e recebi a resposta:
- Aqui não tem isso não.
O que fazer? Como prender os sinalizadores? Imaginei usar um barbante, mas a dona da pensão não tinha. Perdi mais de hora para conseguir improvisar com um pedaço pequeno de arame que eu dispunha para os cinco sinalizadores que iríamos usar. Meu objetivo era acabar logo aquilo e, antes de ser comido pelas baratas, voltar ao meu quarto para poder dormir - o mais importante naquela hora, pois o desafio no dia seguinte era de 57 km, o mais pesado de toda a nossa empreitada.
Mas aquilo não era tudo. Eu ainda tinha que carregar as baterias dos comunicadores, da lanterna e tentar uma comunicação via internet - em vão, pois não havia sinal por ali.
Eu dormi apenas quatro horas, graças a essas atividades extras - as homenagens, a visita ao museu, a preparação da malto e dos sinalizadores, etc. O Fabio não foi muito diferente. Já o Foschini e o Alessandro, que se trancaram em seus quartos logo na chegada, tiveram algumas horas a mais para dormir.
O dia seguinte prometia fortes emoções...

Um comentário:

  1. Deixa eu me defender pela horas a mais de sono! kkkkk
    Realmente eu e o Foschini fomos dormir mais cedo, mas vale a lembrar que no princípio da noite anterior a primeira etapa, enquanto alguns descansavam, fui ao supermercado buscar todos os suprimentos que ainda estavam faltando e talvez nos fossem úteis no 1ª etapa e o Foschini teve um dia bem mais cansativo que o nosso, pois como fez o trajeto Maceió-Piranhas com os Bombeiros, sua viagem foi bem mais cansativa e demorou pelo menos 4 horas a mais que a nossa. Além desses detalhes, não via a necessidade de preparar mais malto, pois havia sobrado muito depois do trajeto Piranhas-Pão de Açucar.
    Apesar disto, reconheço a preocupação do Fábio e o Milani, e os agradeço por terem representado o grupo na homenagem que recebemos na praça. Seria muito deselegante não termos representantes.

    ResponderExcluir