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quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Cap.18 - Preparações para o último dia

Ficamos bem acomodados naquela pousada, providenciada pelas autoridades de Porto Real, mas em território sergipano. Sim, apesar de termos chegado na cidade alagoana, esta nos acomodou na cidade de Propriá, no estado vizinho. Isto somente foi possível por que havia uma ponte ali pertinho que unia os dois estados.
Ao longo dos quase 210 Km do baixo São Francisco, só conhecemos duas pontes entre Sergipe e Alagoas: a primeira delas fica à montante da cidade de Piranhas e nós, nadadores, não tivemos o "prazer" de passar por debaixo da mesma nadando. A ponte era esta:


Veja um pequeno vídeo de como se comporta o Rio São Francisco nessa ponte, entre Piranhas (AL) e Canindé de São Francisco (SE).
Primeiramente, à montante da ponte:


E agora, à sua jusante:


Como se vê, a trubulência é grande nessa região e não se recomenda a ninguém tentar nadá-la sem conhecer muito bem a real conformação do leito do rio, as vazões de Xingó (uma vez que ela fica a poucas centenas de metros à jusante da barragem), o nível das águas e outras variáveis. Cada perturbação que se vê na superfície indica que existe alguma estrutura rochosa sob a água que a provoca. Percebe-se que em alguns pontos, a água faz um movimento rotacional e volta a subir o rio, formando os famigerados e frequentemente mencionados redemoinhos. Certamente é uma região muito mais ameaçadora do que as temidas Caçamba e Mateus descritas em nosso primeiro dia de travessia.
Enfatizo que nossa travessia não incluía passar por baixo desta ponte e, de fato, não o fizemos.
A segunda ponte, próximo da qual estávamos lotados ao final do terceiro dia, apresentava uma conformação do Rio São Francisco bem mais comportada, com poucas corredeiras e perturbações que poderiam preocupar um nadador consciente em busca de segurança absoluta, nossa grande prioridade. Nossa pousada ficava a menos de uma centena de metros desta segunda ponte:


Ao final daquela tarde já estávamos liberados para nos programarmos para o dia seguinte. Não sem antes fazermos uma nova reunião de planejamento com nossos inseparáveis ccompanheiros da Marinha e do Corpo de Bombeiros de Alagoas. As perguntas que não queriam calar eram: por que nós combinamos uma coisa no dia anterior e fazíamos outra? O tema era recorrente e dizia respeito naquele dia às atitudes do Foschini, que deixou de nadar com o Alessandro, distanciou-se desnecessariamente do grupo, não procurou mais a alimentação provida pelos barcos de apoio nos quilômetros finais e entrou na região portuária de Porto Real sozinho, correndo perigo de ser atingido por alguma embarcação local. Eu não tinha a resposta a todas essas perguntas, pois não diziam respeito a mim. Só podia responder por minha atitude de acompanhar o Alessandro quando percebi que ele fora deixado para trás pelo Foschini.
No dia seguinte, perguntei ao Foschini o que tinha acontecido e comentei com ele das chamadas que eu havia levado, sem ter direta responsabilidade por tudo aquilo. Entre uma história aqui e outro depoimento ali, pude juntar os fatos e percebi que a rivalidade estabelecida entre o Foschini e o Fabio naquela fatídica noite em Traipu, onde, entre ofensas pessoais, um desafiou o outro e eles quase saíram no braço, era a real razão da corrida desenfreada de ambos no terceiro dia, que os levou a nadar forte e até mesmo recusar a alimentação nos dez ou doze quilômetros finais. Um crianção de 62 anos e outro com seus trinta e poucos competiam entre si para provar quem era o melhor. De um lado, aquela situação fez-me rir tamanha a sua infantilidade - de outro, deixou-me deveras preocupado pois a segurança da prova fora deixada de lado - e o pior, por seu principal organizador! Isso foi pior que o "Na hora a gente vê."
Ainda na pousada propriense, passamos o Fabio e eu mais alguns momentos emocionantes na cozinha preparando nossas maltos em meio a um ambiente que não era nenhum primor de limpeza e que, por essa razão, nos proporcionava a companhia de insetos repugnantes semelhantes aos já descritos em Pão de Açúcar. Aquela experiência me deixou extremamente comedido e seletivo no café da manhã do dia seguinte - talvez com muita "vitamina B", se é que estou sendo claro...
Naquela mesma noite tive a chance de falar com o meu irmão Paulo, que conseguiu me encontrar no celular. Algumas das cidades por onde havíamos passado não tinham sinal adequado e nossa comunicação ficou bastante comprometida. Passei para ele uma rápida atualização dos fatos, que foram repassados ao restante da família. É sempre bom sentir o apoio da família!
O grande sucesso natatório até aquela etapa era muito mais importante do que os eventuais percalços de nossa aventura e estávamos ávidos pelo quarto e último dia.

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